4.11.12

O branding da poderosa

"Quando vi que teria que ficar nua a minha primeira reação foi pensar: 'Nua? Ai, meu Deus! Socorro!'. Inicialmente eu fiquei tímida, mas a Jéssica tem uma coisa muito forte. Ela é um mulherão, um furacão. Gosto de chamar todas as atenções, todos os olhares. Ela chega a ser vulgar."
Ex-gari e passista de escola de samba, Ana Pérola, atriz escalada pela Globo para o papel de Jéssica, uma das protagonistas da série Subúrbia, expressou nesse depoimento o conflito que é um prato cheio para quem trabalha com branding hipercultural: a mulher da nova classe média ganha espaço no mercado, paga as suas próprias contas, mas ainda se sente presa a códigos morais que negam a livre expressão dos seus desejos e a submetem aos caprichos do homem. Há uma clara contradição entre o seu poder econômico e o seu poder sexual portanto.

Como resolver isso? Por meio de um novo mito de identidade.


MC Pocahontas, a mulher do poder.


A mulher do poder

A internet é um observatório privilegiado de novos mitos de identidade. Um posto avançado na fronteira da nossa cultura, de onde, graças à grande liberdade de expressão que caracteriza o meio, podemos observar o surgimento de novos discursos que desafiam padrões estabelecidos.

As MCs Beyonce e Pocahontas são exemplos disso. Em suas músicas, fenômenos no Youtube, elas exaltam a mulher poderosa, que faz o que quer e é cheia de ostentação. É um tipo oposto ao da mulher "recalcada", que sofre e prefere ficar calada.

"Se as mulheres se sustentam, elas podem fazer o que quiserem", argumenta a MC Beyonce em uma matéria do jornal O Globo. Pocahontas vai além, declarando guerra às amélias: "quando ostenta, [a mulher do poder] acaba chamando mais atenção e deixa para trás as recalcadas".


Dois tipos de mulher

Esse discurso aparece também nas canções brega-cult da Banda Uó. Mel Gonçalves, vocalista e co-autora de Nêga Samurai, elabora a ideia:
"Há dois tipos de mulher, a que sofre e prefere ficar calada e a que expõe o que está sentindo. Essa última é a mulher moderna, atual, a que vai conseguir vencer. As meninas estão se jogando mais. E o brega é a música do escracho, em que se assume o que se está sentido e se escreve de forma literal."




Lições de branding hipercultural

O movimento de liberação da mulher, muito ativo ao longo do século XX, especialmente a partir dos anos 60, vive hoje um outro momento, de maior ostentação sexual, e ocupa novos espaços. Destaca-se não só no funk e no brega-cult, mas também na música sertaneja de Camilla Castro, no samba do grupo Revelação, na marcha das vadias e até na SPFW com a moda piriguete chique.

Marcas ligadas ao público feminino não podem ignorar a discussão se quiserem continuar relevantes junto ao segmento. Precisam participar dela de alguma forma, contando histórias sobre a mulher poderosa ou propondo outros mitos de identidade que pareçam mais cativantes para seu público-alvo específico e sejam coerentes com a sua autoridade cultural.

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