13.6.09

Não me faça pensar

As evidências acumulam-se. Não gostamos de pensar. Muito raramente planejamos e agimos com plena consciência do que estamos fazendo, com critérios e objetivos claros. E eu nem sei se isso seria proveitoso (como sugerem alguns manuais clássicos de estratégia e tomada de decisão), pois geralmente seguir planos é pedir para ser trouxa.

Pois bem, acabei de ler um livro fantástico sobre usabilidade de web sites. Chama-se Não me Faça Pensar, de Steve Krug. Em seu segundo capítulo, entitulado Como realmente usamos a web, são apresentados três fatos sobre o comportamento dos usuários da rede.
  1. Nós não lemos páginas. Damos uma olhada nelas.
  2. Não fazemos escolhas ideais. Fazemos o que é suficiente.
  3. Não descobrimos como as coisas funcionam. Nós apenas atingimos nosso objetivo.
É uma bela descrição do comportamento não só dos internautas como de qualquer tomador de decisão, seja ele um consumidor, um gestor ou um amante. Aliás, Steve Krug recorre aos famosos estudos de campo de Gary Klein para justificar suas ideias. Reproduzo a seguir alguns dos seus argumentos.
A equipe de observadores de Klein começou seu primeiro estudo (sobre comandantes de bombeiros em situações de incêndio) com o modelo amplamente aceito de tomada racional de decisões: ao se deparar com um problema, uma pessoa coleta informações, identifica as possíveis soluções e escolhe a melhor. Eles iniciaram com a hipótese de que, devido à importância e à extrema pressão de tempo, os comandantes de bombeiros poderiam comparar apenas duas opções, uma suposição que eles achavam que fosse conservadora.

Acabou que os comandantes de bombeiros não comparavam quaisquer opções. Eles pegavam o primeiro plano razoável que vinha à mente e executavam um teste mental para descobrir algum problema nele. Caso não encontrassem algum, já tinham seu plano de ação.
Irracional? De modo algum. Há muitas vantagens em agir assim, sem dar muita bola para um planejamento analítico e formal. Eis algumas delas:
  • Como Klein destaca, "otimizar é difícil e demora muito. fazer o suficiente é mais eficiente."
  • Geralmente não há uma punição grande para suposições erradas.
  • Num mundo confuso e imprevisível, ponderar as opções pode não melhorar as chances.
  • "We won't know the outcome until we explore".
  • Adivinhar é mais divertido, já que aumenta as nossas chances de encontrar algo surpreendente e bom.
Note, tudo isso não quer dizer que nunca ponderamos criteriosamente as opções antes de agir. Quando usamos o modo de pensar cogitativo, nós costumamos ser mais analíticos e críticos. Acontece que raramente nós o usamos. Preferimos nos manter no modo experiencial de pensamento, o que, como vimos acima, não é necessariamente ruim e, em muitas situações, pode até ser mais vantajoso.

Se você quiser ir mais fundo na questão, recomendo a leitura do Safári de Estratégia, livro em que a escola de planejamento formal é analisada (e criticada) à luz das teorias atuais sobre como realmente funciona a mente humana e o aprendizado organizacional.