tag:blogger.com,1999:blog-63212852030085197812024-03-18T23:57:21.189-03:00Branding Hiperculturalsubjetividade, cultura e arte na publicidade contemporâneaUnknownnoreply@blogger.comBlogger175125tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-85041429671157560042020-05-08T11:02:00.002-03:002020-05-09T11:04:42.715-03:00Partidas e Chegadas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_3IBMswH-T1BeXJN3pfEZskbWHvRWGpE_LyNti_LmSfWLhXTUxvwjpGxQXlKe1QgixIoFBWx3vxgkPOa4ZWCeBBMaAvqhoR9_tpoj4gpzpViiYFQ3sODR1Hc0OM-eLH8oaO_hpNKGjF6z/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_3IBMswH-T1BeXJN3pfEZskbWHvRWGpE_LyNti_LmSfWLhXTUxvwjpGxQXlKe1QgixIoFBWx3vxgkPOa4ZWCeBBMaAvqhoR9_tpoj4gpzpViiYFQ3sODR1Hc0OM-eLH8oaO_hpNKGjF6z/s320/partidas+e+chegadas.jpg" /></a></div><div><br /></div><div>Passar uma temporada morando em meio à natureza enquanto a quarentena não passa.</div><div><br /></div><div>A ideia já lhe ocorreu nestes dias?</div><div><br /></div><div>Cada vez mais gente parece estar pensando na possibilidade - ficar preso em casa numa grande cidade em meio a um lockdown pode ser assustador.</div><div><br /></div><div>Em outro post sobre a #culturaemmovimento, vimos como <a href="https://brandinghipercultural.blogspot.com/2020/05/a-capital-e-o-interior.html" target="_blank">a busca por casas de sítio bate recordes no Brasil</a> agora. Some a isso o seguinte.</div><div><br /></div><div>Nos últimos 30 dias, as pesquisas por cabanas, barracas de acampamento e pousadas estão em alta.</div><div><br /></div><div>Obviamente, há oportunidades para o setor de hospitalidade nas regiões mais procuradas.</div><div><br /></div><div>Mas há desafios também. A instalação das pessoas que chegam envolve algumas demandas específicas como, por exemplo, um bom acesso à internet para que elas possam continuar trabalhando, estudando e fazendo negócios à distância.</div><div><br /></div><div>--</div><div><br /></div><div>Acompanhe <a href="https://www.instagram.com/hebersales/" target="_blank">#culturaemmovimento no Instagram de Héber Sales</a>.<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-62430057939367652262020-05-04T10:55:00.005-03:002020-05-09T10:58:51.994-03:00A Casa e o Trabalho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0_tGvO7MVTcB7SEvkVO-Lyb9YRS37j1mL5rc7zv6lLH4R_uF-wsfoXhemU-OousKtv2U6fI49PEQdY9Xh6goQROaGSc-hvW7dNvTKgKr2ilLbBH6un4v0XyRHCRhruqqyxlD655Lr-mrz/" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0_tGvO7MVTcB7SEvkVO-Lyb9YRS37j1mL5rc7zv6lLH4R_uF-wsfoXhemU-OousKtv2U6fI49PEQdY9Xh6goQROaGSc-hvW7dNvTKgKr2ilLbBH6un4v0XyRHCRhruqqyxlD655Lr-mrz/s320/A+casa+e+o+trabalho.jpg" /></a></div><div><br /></div><div>O home office está se tornando uma arena socio-ideológica barulhenta.</div><div><br /></div><div>Por um lado, a cultura corporativa celebra o novo esquema não apenas como uma saída de emergência, mas como o novo normal, e com ganhos: os primeiros números indicam aumento considerável de produtividade.</div><div><br /></div><div>Outras vozes sociais, no entanto, veem problemas e se inquietam.</div><div><br /></div><div>Mulheres têm dificuldades, mais especificamente aquelas que têm filhos e assumem maiores obrigações domésticas neste momento.</div><div><br /></div><div>Por exemplo, editores de revistas científicas detectaram que <a href="https://www.insidehighered.com/news/2020/04/21/early-journal-submission-data-suggest-covid-19-tanking-womens-research-productivity" target="_blank">elas estão submetendo menos artigos</a> desde o início da pandemia.</div><div><br /></div><div>A migração para o home office tem seu lado negro.</div><div><br /></div><div>Muitos profissionais relatam que agora o trabalho não para, com calls e videoconferências o tempo todo, desde que acordam até muito tarde da noite, quando vão dormir mais exaustos do que nunca.</div><div><br /></div><div><a href="4co.com.br/trabalho-remoto/" target="_blank">Pesquisa do DigiLabour com trabalhadores de São Paulo</a> concluiu que os setores de comunicação e de educação são o mais afetados, assim como os mais jovens, que, muitas vezes, acumulam tarefas da faculdade também.</div><div><br /></div><div>De qualquer modo, a luta de todos agora é pela manutenção do emprego e da renda, seja a que custo for.</div><div><br /></div><div>No Google, as pessoas procuram cada vez mais recursos para se adaptar ao novo esquema, com pesquisas crescentes sobre cadeiras e outros equipamentos para o escritório doméstico.</div><div><br /></div><div>Busca-se muito também por dicas e orientações para a organização do teletrabalho.</div><div><br /></div><div>Ofertas de trabalho à distância é outro assunto em alta. As pessoas vão à luta na busca por emprego.</div><div><br /></div><div>Enquanto isso, as pesquisas relacionadas a direitos e leis trabalhistas estão em baixa.A crise parece obrigar a gente a aceitar qualquer condição, contanto que haja chance de sobreviver e, com um pouco de sorte, manter o padrão de vida.</div><div><br /></div><div>--</div><div><br /></div><div>Acompanhe <a href="https://www.instagram.com/hebersales/">#culturaemmovimento no Instagram de Héber Sales</a>.<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-32190641940293570232020-05-03T10:51:00.001-03:002020-05-09T10:52:24.349-03:00A Democriacia e o Capitalismo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik0nxhDo6C5V_WblChr4mDXUmnz7f02F0Mjgvl4my7GxyTmm6YfrZN0nR3buRCG8e3CByzstn8oFA_tysnLSVewZlsMI5vCuTiDIeb9P2QUw5ZViZJoO8ASzUbLTIF9plribgMGcl7bQk-/" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik0nxhDo6C5V_WblChr4mDXUmnz7f02F0Mjgvl4my7GxyTmm6YfrZN0nR3buRCG8e3CByzstn8oFA_tysnLSVewZlsMI5vCuTiDIeb9P2QUw5ZViZJoO8ASzUbLTIF9plribgMGcl7bQk-/s320/democracia+e+capitalismo.jpg" /></a></div><div><br /></div><div>Capitalismo não rima com democracia.</div><div><br /></div><div>É o que sugerem as palavras mais usadas pelos brasileiros quando pesquisam pelo assunto na internet. <br /></div><div><br /></div><div>Nenhuma delas refere-se a democracia.O que eles têm em mente quando buscam informações sobre capitalismo?</div><div><br /></div><div>Uma análise das palavras que estão em ascensão sugerem novos interesses: o "fortalecimento do capitalismo", "capitalismo reverso", os "símbolos do capitalismo", suas "fases" e modalidades.</div><div><br /></div><div>Curiosamente, democracia é um termo cada vez mais lembrado quando as pessoas pesquisam a respeito de socialismo.</div><div><br /></div><div>Nessas buscas, democracia é relacionada a socialismo especialmente quando elas buscam saber sobre "o que é democracia" e sobre "socialismo democrático.</div><div><br /></div><div>O divórcio entre democracia e capitalismo tem sido enfatizado por vários pensadores atualmente, entre eles Agamben, Chomsky e Han Byung-chul.</div><div><br /></div><div>Porém, lembremo-nos: quando e onde esses dois regimes chegaram a ter um casamento sólido?</div><div><br /></div><div>Na Europa, a associação entre capitalismo e autoritarismo foi notável nos casos do nazismo e do fascismo, que acabaram vencidos por forças democráticas.</div><div><br /></div><div>Atualmente, no entanto, vemos avançar naquele continente uma série de governos de tendência totalitária, e isto acontece em plena ordem capitalista.</div><div><br /></div><div>No terceiro mundo, houve durante a guerra fria várias ditaduras patrocinadas pelos EUA, baluarte do capitalismo, que estavam preocupados com a expansão do comunismo liderado pela União Soviética.</div><div><br /></div><div>No Brasil de hoje, o espantalho do comunismo saiu do armário como peça de propaganda do presidente Bolsonaro e de seus aliados, que chegam a falar na volta do AI-5 para evitar um golpe de estado que estaria sendo organizado por "comunistas".</div><div><br /></div><div>Talvez por isso, pela primeira vez nos últimos 5 anos, o termo comunismo passou a ser mais procurado do que socialismo e, por quase 3 semanas entre março e abril, mais do que democracia.O fenômeno acontece em meio à radicalização política crescente.</div><div><br /></div><div>--</div><div><br /></div><div>Acompanhe <a href="https://www.instagram.com/hebersales/" target="_blank">#culturaemmovimento no Instagram de Héber Sales</a>.<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-70202416958026293622020-05-01T10:47:00.001-03:002020-05-09T10:48:11.208-03:00A Capital e o Interior<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaQtYIhnvlHahyv499bI-fuENDkLZ81fnSLQcEvAHk9qwp8uDY-5C8LwDfYhb52Ll9YUr4uNovfvu5fpCkSKLII7LIGoc9RoknmwTFhgHl9k7RGHBsxonPQcE-W-8pjJgazLDTpIb4F2PJ/" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaQtYIhnvlHahyv499bI-fuENDkLZ81fnSLQcEvAHk9qwp8uDY-5C8LwDfYhb52Ll9YUr4uNovfvu5fpCkSKLII7LIGoc9RoknmwTFhgHl9k7RGHBsxonPQcE-W-8pjJgazLDTpIb4F2PJ/s320/a+capital+e+o+interior.jpg" /></a></div><div><br /></div><div>A busca por "casas de sítio" está experimentando no Google o mais alto pico em 5 anos.</div><div><br /></div><div>O fenômeno ocorre fora da temporada de férias, período em que a procura por esses imóveis costuma aumentar.</div><div><br /></div><div>A tendência coincide com o crescimento do teletrabalho, que deve se consolidar em um novo patamar.</div><div><br /></div><div>Estudo da FGV indica que o home office crescerá 30% mesmo com a retomada das atividades.</div><div><br /></div><div>Assistiremos a uma revalorização do interior como local de moradia por parte daqueles que hoje se sentem ameaçados pelas aglomerações em grandes cidades?</div><div><br /></div><div>São esses indivíduos que sofrem também as maiores restrições em sua liberdade de ir e vir neste momento.</div><div><br /></div><div>--</div><div><br /></div><div>Acompanhe <a href="https://www.instagram.com/hebersales/" target="_blank">#culturaemmovimento no Instagram de Héber Sales</a>.<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-49152341080966569352020-04-30T10:30:00.007-03:002020-05-09T10:34:58.992-03:00O Influente e o Popular<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2sAquv3KPytdRu4HM6jJwpWyn8LI7rnax3lfMYDZzp0XG1_qxJEI0z0Lsp2IsrWKz8bi0QNgpaLpx01gFl_0Zp5uyUfFlU6g0YzNSIW1wEhG6mrFzdSThXRycUyoEZXKlMG-4h_V3yi-9/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2sAquv3KPytdRu4HM6jJwpWyn8LI7rnax3lfMYDZzp0XG1_qxJEI0z0Lsp2IsrWKz8bi0QNgpaLpx01gFl_0Zp5uyUfFlU6g0YzNSIW1wEhG6mrFzdSThXRycUyoEZXKlMG-4h_V3yi-9/s320/o+influente+e+o+popular.jpg" /></a></div><div><br /></div><div>Embora não seja tão popular quanto o Instagram ou o Facebook, o TikTok tem se tornado culturalmente influente em nosso país.</div><div><br /></div><div>Será que ele se tornará mainstream por aqui algum dia, com uma audiência tão grande como a das maiores redes?</div><div><br /></div><div>Ou ocupará uma posição similar a do Twitter, uma rede de nicho, mas influente, um verdadeiro laboratório de novas narrativas e linguagens que depois se espalham por outras redes?</div><div><br /></div><div>Por enquanto, é isto o que temos visto, com tiktokers compartilhando seu conteúdo no Instagram, no Facebook e no próprio Twitter.</div><div><br /></div><div>A título de curiosidade, lembremo-nos de algumas redes cuja audiência nunca explodiu no Brasil, mas que lançaram formatos novos e estéticas peculiares.</div><div><br /></div><div>O Snapchat criou o que hoje conhecemos por stories, que fazem muito sucesso no Instagram.</div><div><br /></div><div>O Tumblr em certo momento era muito citado por usuárias de outras redes, as quais nunca tiveram um perfil por lá, mas escreviam no Facebook e no Instagram: "toda tumblr".</div><div><br /></div><div>--</div><div><br /></div><div>Acompanhe <a href="https://www.instagram.com/hebersales/" target="_blank">#culturaemmovimento no Instagram de Héber Sales</a>.<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-65420149939158961692020-04-28T10:39:00.000-03:002020-05-09T10:39:46.287-03:00O Local e a Nação<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6aXM1NCUvtb5ukNkCa4kV1Yo1_pzS74vmchuc-Iw4o0h4M-nQvIvEfDH41UQ0VlEkSrwbUzWDV0vtZrx5pP9bk1MDv7HvWbdXdwRwm-OcYkZhgExr603AJ7-h5mBX8jvH3f6ruv5DP1fr/" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6aXM1NCUvtb5ukNkCa4kV1Yo1_pzS74vmchuc-Iw4o0h4M-nQvIvEfDH41UQ0VlEkSrwbUzWDV0vtZrx5pP9bk1MDv7HvWbdXdwRwm-OcYkZhgExr603AJ7-h5mBX8jvH3f6ruv5DP1fr/s320/O+local+e+a+nac%25CC%25A7a%25CC%2583o.jpg" /></a></div><div><br /></div><div>No interior, a política local é naturalmente um lugar do encontro.</div><div><br /></div><div>Não há como evitar os vizinhos desse condomínio que é a pequena cidade, ou vê-los apenas de longe, passeando no feed de uma rede social qualquer.</div><div><br /></div><div>É preciso organizar o espaço comum, dividir a calçada, a cortesia nas festas da comunidade e até o ar que se respira nos poucos consultórios do lugar.</div><div><br /></div><div>Obviamente, há sempre paranoicos percorrendo os quarteirões. Mas eles tendem a ser marginalizados e esquecidos pela maioria - ou se tornam figuras folclóricas bastante conhecidas, desde que não se levem a sério.</div><div><br /></div><div>As pessoas, quando compartilham o mesmo espaço, tornam-se politicamente pragmáticas e consideravelmente mais gentis umas com as outras, perdendo quase toda a sua agressividade ideológica, assim como a sua eventual ideologia de agressividade.</div><div><br /></div><div>Não é como no Twitter ou no Facebook, onde você pode xingar os adversários dos outros partidos à vontade sem ter medo de encontrá-los quando, logo ao sair de casa, botar um pé na rua.</div><div><br /></div><div>--</div><div><br /></div><div>Acompanhe <a href="https://www.instagram.com/hebersales/" target="_blank">#culturaemmovimento no Instagram de Héber Sales</a>.<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-20418409816011335382020-04-27T10:44:00.000-03:002020-05-09T10:44:54.134-03:00O automóvel é a mensagem<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTsRu1SLvWXZUJ1_g-3-SIWWMwMvOUJ9nWJOgTTYz7PftS0yxR7Dw3VwloWqrChavj_Bh8-IOccTrF8ec6vzMKve3mzScyXFf5SGWdx07UvKpQcV7zTIzFQXxpECniNZGnGD91h9sfadgR/" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="512" data-original-width="768" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTsRu1SLvWXZUJ1_g-3-SIWWMwMvOUJ9nWJOgTTYz7PftS0yxR7Dw3VwloWqrChavj_Bh8-IOccTrF8ec6vzMKve3mzScyXFf5SGWdx07UvKpQcV7zTIzFQXxpECniNZGnGD91h9sfadgR/s320/drive+in.jpg" width="320" /></a></div><div><span class="oi732d6d ik7dh3pa d2edcug0 qv66sw1b c1et5uql a8c37x1j irj2b8pg enqfppq2 jq4qci2q a3bd9o3v knj5qynh oo9gr5id" dir="auto"><br /></span></div><div><span class="oi732d6d ik7dh3pa d2edcug0 qv66sw1b c1et5uql a8c37x1j irj2b8pg enqfppq2 jq4qci2q a3bd9o3v knj5qynh oo9gr5id" dir="auto">A cultura se move, os símbolos se deslocam e adquirem novas nuances no Brasil pós-pandemia.<br /><br />Eventos
em drive-ins, exames em drive-thrus, carreatas, e não mais passeatas: o
automóvel, agora uma célula de sobrevivência, avança um pouco mais para
o centro da nossa civilização; resiste como estandarte, e não só como
instrumento, na batalha da cultura contra a natureza - e como símbolo do
privilégio de classe.</span></div><div><span class="oi732d6d ik7dh3pa d2edcug0 qv66sw1b c1et5uql a8c37x1j irj2b8pg enqfppq2 jq4qci2q a3bd9o3v knj5qynh oo9gr5id" dir="auto"><br /></span></div><div><span class="oi732d6d ik7dh3pa d2edcug0 qv66sw1b c1et5uql a8c37x1j irj2b8pg enqfppq2 jq4qci2q a3bd9o3v knj5qynh oo9gr5id" dir="auto">--</span></div><div><span class="oi732d6d ik7dh3pa d2edcug0 qv66sw1b c1et5uql a8c37x1j irj2b8pg enqfppq2 jq4qci2q a3bd9o3v knj5qynh oo9gr5id" dir="auto"><br /></span></div><div><span class="oi732d6d ik7dh3pa d2edcug0 qv66sw1b c1et5uql a8c37x1j irj2b8pg enqfppq2 jq4qci2q a3bd9o3v knj5qynh oo9gr5id" dir="auto">Acompanhe <a href="https://www.instagram.com/hebersales/" target="_blank">#culturaemmovimento no Instagram de Héber Sales</a>.<br /></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-66824152223822548842020-01-11T08:16:00.000-03:002020-01-11T08:16:00.172-03:00O conceito de cultura em Foucault<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiU1-HEmcQ_OkS6ed86-Qumsc4iG62LVWOoiqybC-W2Rvf17YVUXIr7bE2RmfFEVJ7ZJBFt01Qy3XwKmEoUraozq_AkxZt9NhOMenPNhj-9XlGNLK0yMUW1AM98TpGmkRa4_7zYeUHE0plI/s1600/Foucault+reader.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="315" data-original-width="600" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiU1-HEmcQ_OkS6ed86-Qumsc4iG62LVWOoiqybC-W2Rvf17YVUXIr7bE2RmfFEVJ7ZJBFt01Qy3XwKmEoUraozq_AkxZt9NhOMenPNhj-9XlGNLK0yMUW1AM98TpGmkRa4_7zYeUHE0plI/s400/Foucault+reader.jpg" width="400" /></a></div>
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"[...] se pode falar de cultura, parece-me, sob certas condições. Primeiramente, quando dispomos de um conjunto de valores que têm entre si um mínimo de coordenação, de subordinação, de hierarquia. Pode-se falar de cultura quando atendida uma segunda condição, a saber, que estes valores sejam dados como sendo ao mesmo tempo universais, mas não acessíveis a qualquer um. Terceira condição para que se possa falar de cultura: a fim de que os indivíduos atinjam estes valores, são necessárias certas condutas, precisas e regradas. Mais que isto, são necessários esforços e sacrifícios. Afinal, é necessário mesmo poder consagrar a vida inteira a estes valores para ter acesso a eles. Por fim, a quarta condição para que se possa falar de cultura, é que o acesso a estes valores seja condicionado por procedimentos e técnicas mais ou menos regrados, que tenham sido elaborados, validados, transmitidos, ensinados, e estejam também associados a todo um conjunto de noções, conceitos, teorias, etc., enfim, a todo um campo de saber."<br />
<br />
FOUCAULT, Michel. <i>A Hermenêutica do Sujeito</i>. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 220-221.<br />
<br />
Leia também: <a href="https://brandinghipercultural.blogspot.com/2011/02/o-que-e-cultura.html" target="_blank">O que é cultura</a> Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-30200014174960118402018-11-10T23:37:00.002-03:002018-11-22T05:47:04.812-03:00A publicidade engajada tem futuro?<i>Héber Sales</i><br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnmxH-MOemhfTpdKGrAytdWKdUDUpqYqAMZBRNrwk6SlNfQCrTWkHbx2WvbkwHVtNVS3-PgVYKB0skOSCNs4grp21sQAJJBfZcmWGC2k6YJTiy3yEEGcBEVGDZp1_IHjAuO6R08uXML8Tn/s1600/5b8d264b0e625-5b8d2933c8708-980x480.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="481" data-original-width="980" height="193" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnmxH-MOemhfTpdKGrAytdWKdUDUpqYqAMZBRNrwk6SlNfQCrTWkHbx2WvbkwHVtNVS3-PgVYKB0skOSCNs4grp21sQAJJBfZcmWGC2k6YJTiy3yEEGcBEVGDZp1_IHjAuO6R08uXML8Tn/s400/5b8d264b0e625-5b8d2933c8708-980x480.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Nos últimos anos, vimos cada vez mais campanhas publicitárias com pautas identitárias e valorização da diversidade.<br />
<br />
As grandes disputas midiáticas, no entanto, estão terminando com um placar diferente. Tanto nos EUA como no Brasil, as vitórias de Trump e de Bolsonaro sugerem que a maioria anda sentindo falta daquelas grandes narrativas que fazem as pessoas se sentirem parte de algo maior e mais forte do que elas.<br />
<br />
Por lá, deu "Make America great again". Por aqui, "Deus acima de todos, o Brasil acima de tudo".<br />
<br />
E na publicidade, vai dar o que?<br />
<br />
Não ofereço respostas por enquanto, mas duas ressalvas.<br />
<br />
A primeira: é preciso observar que, de um modo geral, publicitários costumam ser pessoas mais libertárias, que se identificam naturalmente com as forças centrífugas que geram a diversidade cultural.<br />
<br />
Talvez seja difícil para eles captarem o sentido mais profundo do discurso totalizante e autoritário pelo qual a massa se apaixonou.<br />
<br />
A segunda ressalva: essa massa não é uma massa tão massiva assim - ela não corresponde a uma maioria sólida. Nos EUA, o placar foi apertado. Por aqui, menor do que os bolsonaristas esperavam.<br />
<br />
Lá, dois anos depois, a direita acaba de perder a maioria na Câmara, com um notável avanço não só dos democratas, como também dos socialistas democratas e de candidatos de minorias que jamais tiveram assento no parlamento.<br />
<br />
Em que pese o equilíbrio entre conservadores e progressistas, porém, muitas marcas de massa podem estar descobrindo agora que a sua publicidade engajada não tem tanto apelo assim para a outra metade do mercado.<br />
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<br />
Leia também: <a href="http://www.publicidadedialogica.com/2018/11/revolucao-e-continuidade-na-publicidade.html" target="_blank">Revolução e continuidade na publicidade contemporânea</a>.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-82342211423011482692018-07-07T10:34:00.000-03:002018-08-16T07:30:40.087-03:00O futuro da publicidade e das agências<i>Héber Sales</i><br />
<br />
<br />
Se existe uma pessoa hoje no Brasil com quem vale a pena conversar sobre o futuro da publicidade e das marcas, essa pessoa é a Gal Barradas. Sempre termino nossos papos com a cabeça a mil, cheia de ideias novas. Foi por isso que decidi gravar essa entrevista com ela para o canal do meu grupo de pesquisa. Aproveitem ;)
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/-adlRPF7Tew/0.jpg" frameborder="0" height="421" src="https://www.youtube.com/embed/-adlRPF7Tew?feature=player_embedded" width="505"></iframe></div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-79246750556271129172018-06-11T10:57:00.004-03:002018-06-11T10:57:55.849-03:00Gal Barradas fala sobre semiótica e publicidade<i>Héber Sales</i><br />
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Há quase dois anos, inaugurei o <a href="http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/9804348673395360" target="_blank">Grupo de Pesquisa em Semiótica Aplicada à Publicidade e Propaganda</a> (GPSPP), que é certificado no CNPq pelo UNASP, Centro Universitário Adventista de São Paulo.<br />
<br />
Além de investigações científicas, desenvolvemos também estudos para o mercado. É nessa fronteira que produzimos conteúdos como esta entrevista com a <a href="http://www.womentowatch.com.br/homenageadas/2017/gal-barradas/" target="_blank">Gal Barradas</a>, a única mulher entre os 10 publicitários mais admirados do país.<br />
<br />
Além de ser uma empresária de destaque, eleita executiva do ano pelo Prêmio ABP em 2016 , Gal tem uma especialização em semiótica pela Universidade de Paris. Ela é uma daquelas pessoas que, com a mesma desenvoltura, fala tanto ao mercado como à academia.<br />
<br />
Na primeira parte da nossa conversa, discutimos então sobre como a semiótica pode contribuir para a publicidade e a propaganda.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/MNitd5iI_8k/0.jpg" frameborder="0" height="320" src="https://www.youtube.com/embed/MNitd5iI_8k?feature=player_embedded" width="384"></iframe></div>
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O papo foi longo. Por isso, dividimos a entrevista em quatro partes. As demais podem ser vistas em nosso <a href="https://www.youtube.com/channel/UCXe952sodSRtYEatM0TjLFA" target="_blank">canal do GPSPP no Youtube</a>.<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-3963962903827776002018-06-06T10:22:00.000-03:002018-06-20T05:44:15.475-03:00As eleições do Whatsapp<i>Héber Sales</i><br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKSUjk4ltSFt5NBFastkuc-Tz5OsBZwyvnaodB6tOUZDgm2uvLq7QPJcw22Ih_hOcq26HoJrkk8IJAJMZAPn4Uj87tbh_OKg7wOE1r15c59r0GQ4YCnTSTVtxZvjfCMp6xXrEb5z2h02NA/s1600/20150330corrillos-whatsapp-de-padres.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="640" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKSUjk4ltSFt5NBFastkuc-Tz5OsBZwyvnaodB6tOUZDgm2uvLq7QPJcw22Ih_hOcq26HoJrkk8IJAJMZAPn4Uj87tbh_OKg7wOE1r15c59r0GQ4YCnTSTVtxZvjfCMp6xXrEb5z2h02NA/s400/20150330corrillos-whatsapp-de-padres.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Quando muitos esperavam ver, graças à liberação de anúncios dos candidatos na rede, as eleições do Facebook, eis que descobrimos que a principal arena de luta política no Brasil pode ser outra: o Whatsapp.<br />
<br />
A greve dos caminhoneiros, organizada de forma horizontal e viral por meio desse aplicativo, parece ser aquele <i>turning point</i> que faltava.<br />
<br />
Enquanto o <a href="https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2018/06/03/projetos-contra-noticias-falsas-atropelam-liberdade-de-expressao.htm" target="_blank">Congresso Nacional discute leis para barrar a onda de <i>fake news</i></a> no Facebook, fenômeno que ganhou destaque a partir da campanha de Donald Trump nos EUA, os brasileiros se informam cada vez mais por meio do mensageiro instantâneo.<br />
<br />
Nele, é mais difícil detectar a origem de uma <i>fake news</i>. Isso porque as mensagens que fluem de um ponto a outro são criptografadas e muitos utilizam um número de telefone pré-pago.<br />
<br />
O movimento dos caminhoneiros parece ser mais uma evidência de um processo mais amplo de desinstitucionalização e de crise da representação em nossa sociedade (e não apenas nela).<br />
<br />
Alheios aos sindicatos, associações e partidos, a categoria se organizou como uma pirâmide de grupos no Whatsapp. Entre eles, fluía livremente demandas de vários níveis, com a voz local ganhando relevância tanto em termos de pauta quanto de liderança.<br />
<br />
O Governo Federal ignorou a nova ordem de coisas e se deu mal ao anunciar precocemente o fim de uma greve que continuou por alguns dias mais.
Em São Paulo, o governador, assistido por alguns assessores mais antenados, reconheceu a força do Whatsapp e usou um grupo para reunir representantes da citada pirâmide, conseguindo deste modo uma interlocução mais produtiva e consequente.<br />
<br />
Fica aí a lição para partidos, políticos e empresas também. Assim como os cidadãos, os consumidores organizam-se nesse novo meio.<br />
<br />
Entre os mais jovens, conforme já discuti, <a href="https://www.linkedin.com/pulse/os-jovens-est%C3%A3o-mesmo-abandonando-o-facebook-h%C3%A9ber-sales/" target="_blank">o Facebook perde a relevância</a> como fonte de informação. O Instagram, mídia social em que agora consomem mais conteúdo, é por onde se informam cada vez mais sobre produtos e serviços.<br />
<br />
Um estudo da Pública, agência de jornalismo investigativo, informa que <a href="https://apublica.org/2018/03/jovens-se-afastam-de-paginas-engajadas-e-interagem-com-imprensa-tradicional-revela-estudo/" target="_blank">os jovens estão se afastando de páginas engajadas</a> e interagindo mais com a imprensa tradicional, que usa uma linguagem mais neutra.<br />
<br />
No processo, muitos deles, assim como o público mais adulto, usam o Whatsapp para compartilhar notícias e checar informações. E o cidadão está ficando escolado nisso, <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com/2018/06/como-lidar-com-as-fake-news.html" target="_blank">aprendendo a lidar com as <i>fake news</i></a>.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-81891343766419546762018-06-05T09:57:00.000-03:002018-06-06T10:23:29.587-03:00Como lidar com as fake news<i>Héber Sales</i><br />
<br />
O problema das leis que vêm aí contra as <i>fake news</i> é definir o que é uma <i>fake news</i>.<br />
<br />
Muitos políticos e governantes, quando se sentem acuados por certas notícias hoje em dia, taxam-nas logo de <i>fake news</i>.<br />
<br />
Donald Trump, nos EUA, tem essa mania. Várias vezes, quando a imprensa revela dados que sugerem seu envolvimento com práticas fraudulentas, ele simplesmente responde: é <i>fake news</i>.<br />
<br />
O desejo de censurar não é privilégio da direita, lembremo-nos. O governo petista, em vários momentos, pensou em regular mais duramente a mídia e, nos países comunistas de ontem e de hoje, nem a imprensa nem os cidadãos têm direito à livre manifestação.<br />
<br />
Por aqui, durante o movimento dos caminhoneiros, Temer e seus assessores fizeram pouco caso de notícias que circulavam no Whatsapp sobre a mobilização da categoria.<br />
<br />
Da primeira vez, há alguns dias, erraram. A greve continuou, apesar de terem anunciado seu fim após reunião com representantes dos caminhoneiros que pouco representavam (o movimento se organizava horizontalmente por meio do Whatsapp, como um vírus, sem comando central).<br />
<br />
Nos últimos dias, monitoraram a rede mais de perto. Vacilantes, afirmavam ontem que provavelmente não haveria paralisação nesta segunda.<br />
<br />
Nos grupos dos quais participo, a troca de informações foi intensa. Havia um esforço coletivo para checar o boato. Depois de conversar com um e com outro, quase ninguém acreditava que haveria uma nova greve.<br />
<br />
O cidadão esta ficando escolada em fake news e parece muitas vezes mais esperto do que as autoridades na hora de lidar com elas.<br />
<br />
De fato, as buscas por "o que é <i>fake news</i>" explodiram no Google desde outubro/2017, o que sugere que o melhor antídoto contra as <i>fake news</i> pode ser simplesmente mais <i>news</i>, e não mais governo.<br />
<br />
Dia 19/06, na UFU, vou falar um pouco mais sobre esse assunto durante o <a href="https://www.facebook.com/events/2023683371283980/" target="_blank">XI Workshop GELS</a>. Na minha conferência, abordarei "O signo ideológico na era das mídias sociais: fake news, pós-verdade e plurilinguismo".<br />
<br />
Leia também: <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com/2018/06/as-eleicoes-do-whatsapp.html" target="_blank">As eleições do Whatsapp</a><br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-54950531214680182372018-04-27T13:22:00.000-03:002018-04-27T14:58:02.187-03:00As histórias que importam na publicidade<i>Héber Sales</i><br />
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Algumas histórias interessam mais à uma marca pós-moderna, que tenha alto teor simbólico e valor de marca, do tipo que se torna um ícone cultural. São histórias que podem ser contadas por qualquer negócio, por mais local que seja. Não é preciso um grande <i>budget</i>. Uma rede de mercados de bairro, suponhamos.<br />
<br />
O setor cresce continuamente nos grandes centros há alguns anos. A que se deve o <i>boom</i>? Não há uma só explicação. Depende do referencial que você usa (sim, o referencial importa na pesquisa de propaganda tanto quanto na pesquisa científica). Se não, vejamos.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFQuBMiORSk1kpMalr3FMHjwhv6tEY1imZVNTWNkc-voMtfEiZSkIZWKij3qYrOix-ZI0HqjU8hFcbwCJCMWlkx63RM6dwUYa3zZY-_17Bk6Jir2WJDtoxOTu5HSHRHHZyPzxQEvpNjVeW/s1600/1280675627-storytelling.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="558" data-original-width="1000" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFQuBMiORSk1kpMalr3FMHjwhv6tEY1imZVNTWNkc-voMtfEiZSkIZWKij3qYrOix-ZI0HqjU8hFcbwCJCMWlkx63RM6dwUYa3zZY-_17Bk6Jir2WJDtoxOTu5HSHRHHZyPzxQEvpNjVeW/s400/1280675627-storytelling.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
Caso você seja um economista, provavelmente talvez vá entender a coisa pelo prisma da relação custo/benefício e concluirá que, para compras menores, o tempo e o dinheiro gastos para ir até um atacadão não compensa os preços extremamente baixos. Melhor comprar o pão, o leite e alguma guloseima no mercado de bairro mesmo.<br />
<br />
Se você for um psicólogo, é bem capaz de pensar em coisas como: os pais compram tais guloseimas quando vão para casa como uma estratégia para aplacar a culpa que sentem por passar tanto tempo longe dos pequenos.<br />
<br />
Por outro lado, em um estudo antropológico, o comportamento será encarado como um ritual que fixa significados que dão sentido à vida pessoal e familiar dos envolvidos. Chegar em casa com um quitute diferente, o pão quentinho e um pouco mais de manteiga, que acabou rápido demais desde a última compra do mês, é uma pequena celebração por um dia que termina bem, com todos juntos mais uma vez, embora o mundo lá fora esteja tão difícil e perigoso.<br />
<br />
Qualquer uma dessas três pesquisas poderia inspirar uma campanha? Depende da marca, do seu posicionamento ou autoridade cultural e da sua estratégia competitiva. Especulemos.<br />
<br />
Uma rede local de pequenos mercados de bairro dificilmente teria a escala necessária para bater a concorrência praticando os preços mais baixos da categoria. Dependendo do desconto, não convenceria nem mesmo o comprador a se desviar do seu caminho um pouco para ir até o bairro vizinho. Ela não existe para vender somente produtos, mas conveniência.<br />
<br />
Se o seu sortimento tem alguns produtos diferenciados, únicos, com uma qualidade notável, e o seu pessoal recebe os clientes com alegria e camaradagem, usar o apelo sugerido pelo psicólogo pode ser depressivo, disfórico. Ninguém vai as compras para se entristecer com reflexões angustiantes, não é mesmo? A menos que esteja pagando por filmes de terror e dramas densos.<br />
<br />
Ao invés de falar de problemas e neuroses, não faz muito mais sentido falar dos significados descobertos pelo antropólogo em uma etnografia, os quais dão um sentido reconfortante e animador para vida familiar?<br />
<br />
Obviamente, há outros <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2011/11/estrategias-semioticas-para.html" target="_blank">tipos de campanhas</a> no mundo da publicidade e da propaganda, mas não para uma marca que queira ganhar as pessoas pela emoção e pelo afeto, se tornar uma <i>lovemark</i> e se firmar como ícone cultural. Ela tem que praticar <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2012/10/branding-hipercultural.html" target="_blank">branding hipercultural</a>.<br />
<br />
Leia ainda: <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2017/02/ligando-os-pontos-na-publicidade-de-um.html" target="_blank">Ligando os pontos na publicidade de um museu</a>.<br />
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<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-34266264575297686942018-04-25T10:12:00.002-03:002018-05-10T19:15:43.353-03:00O signo ideológico na era das mídias sociais: pós-verdade, fake news e plurilinguismo<i>Héber Sales</i><br />
<br />
<br />
A noção de signo ideológico é a perspectiva a partir da qual costumo encarar o debate sobre 'pós-verdade' e '<i>fake news</i>' na era das mídias sociais.<br />
<br />
Para Bakhtin/Volochinov, o signo funciona como uma arena em que diferentes grupos sociais se enfrentam em inesgotáveis negociações de sentido. A diversidade ideológica observada em tais disputas pode ser relacionada, no âmbito do pensamento bakhtiniano, ao conceito de plurilinguismo ou polifonia: uma língua seria na realidade composta por várias línguas, cada uma delas relativa a uma classe social. Longe de ser um problema, a variação linguística daí resultante é o que mantém a cultura viva, em movimento, pois os efeitos de sentido de um enunciado dependem em grande parte das relações dialógicas que ele mantém com outros enunciados, tanto aqueles que o precedem como os que a ele respondem em uma cadeia discursiva.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW1eZC0LtX8TvovJlq4UZlrhJuQRqO0f-MKZo1Z5V33N_ebOZLdpEum08-0gpSkfg7OUoMBuxm37_Xt1Dq4raKv9gKJEaH9Q40z0U1OxzLDFliMV5XHofiM9ukQQAy8w5JDQlK0eU8j45W/s1600/wp-1489187250774.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="581" data-original-width="1200" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW1eZC0LtX8TvovJlq4UZlrhJuQRqO0f-MKZo1Z5V33N_ebOZLdpEum08-0gpSkfg7OUoMBuxm37_Xt1Dq4raKv9gKJEaH9Q40z0U1OxzLDFliMV5XHofiM9ukQQAy8w5JDQlK0eU8j45W/s400/wp-1489187250774.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
A partir dessas considerações, questiono até que ponto a cultura da pós-verdade é de fato uma ameaça à racionalidade humana. A circulação de 'fatos alternativos' nas mídias sociais, que, em algumas situações, são considerados 'f<i>ake news</i>', seria mesmo um fenômeno estranho à nossa condição de seres sociais ou se trata somente de mais uma evidência da natureza ideológica do signo e da linguagem? A propósito, qual seria precisamente a diferença entre 'fatos alternativos' e '<i>fake news</i>'?<br />
<br />
E o que dizer das 'guerras culturais' que tomaram conta da rede? Não seriam elas uma manifestação extrema do dialogismo e da polifonia que caracterizam toda língua viva? Finalmente, quanto à verdade, como conciliar a nossa busca por conhecimento nas ciências humanas com a possibilidade de que, como propõe Mikhail Bakhtin, os signos por meio dos quais representamos a realidade não somente a refletem como também a refratam?<br />
<br />
Neste momento, preparo uma conferência sobre o assunto para o XI Workshop do Grupo de Estudo e Pesquisa em Linguagem e Subjetividade (GELS), sediado na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Nela, discutirei como, em alguns casos concretos, as ideias do filósofo russo e dos seus colegas do Círculo podem nos ajudar a abordar tais perguntas. Espero compartilhar em seguida aqui mesmo no blog todo o conteúdo da palestra.<br />
<br />
Leia também: <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2017/12/o-artista-o-cientista-e-o-evangelista.html" target="_blank">O artista, o cientista e o evangelista</a>.<br />
<br />
<b><br /></b>
<b>REFERÊNCIAS</b><br />
<br />
BAKHTIN, Mikhail. <i>Problemas de poética de Dostoiévski</i>. Trad. Paulo Bezerra. 5. ed. (Revista). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013.<br />
<br />
_______________. <i>Notas sobre literatura, cultura e ciências humanas</i>. Organização, tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra; notas da edição russa de Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2017 (1a. edição).<br />
<br />
_______________; VOLOCHINOV, Valentin N. <i>Marxismo e filosofia da linguagem</i>: problemas fundamentais do método sociológico da linguagem. Trad. Michel Lahub e Yara Frateschi Vieira. 16.ed. São Paulo: Hucitec, 2014.<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-70559174509946957582018-01-21T11:52:00.002-03:002018-01-22T07:31:00.425-03:00Liberdade de expressão e apologia na arte<i>Héber Sales</i><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZabe-gozrUv0MuSfpg-4sD3z7f6GabJOdaH4piZEcr5tAoAz9JfHcw88sxkritoTunrAK3he817qFiDhQeBB_bQZNbOjzpTlzZOY7ve4PwvoJh8MBKMxzPzoABsEn9heU0H5ZePF_FEeV/s1600/banksy_op_ed_greenpoint_lede.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZabe-gozrUv0MuSfpg-4sD3z7f6GabJOdaH4piZEcr5tAoAz9JfHcw88sxkritoTunrAK3he817qFiDhQeBB_bQZNbOjzpTlzZOY7ve4PwvoJh8MBKMxzPzoABsEn9heU0H5ZePF_FEeV/s400/banksy_op_ed_greenpoint_lede.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Intervenção de Banksy em New York (2013)</td></tr>
</tbody></table>
<br />
O Rodrigo Cássio Oliveira, filósofo e colunista do Estadão, é uma das pessoas com quem mais aprendo hoje em dia nesse debate sobre arte e liberdade de expressão, embora, conforme ficará claro mais adiante, eu tenha algumas ressalvas às teses dele.<br />
<br />
Antes, porém, para melhor entendimento do que escrevo neste post, recomendo a leitura prévia de dois textos dele: <a href="http://cultura.estadao.com.br/blogs/estado-da-arte/mc-diguinho-e-as-contradicoes-da-esquerda/" target="_blank">MC Diguinho e as contradições da esquerda</a> e <a href="http://www.rodrigocassio.com/blog/2018/1/20/liberdade-de-expresso-na-msica-respostas-a-algumas-objees" target="_blank">Liberdade de expressão: respostas a algumas objeções</a>.<br />
<br />
De um modo geral, concordo com o seu argumento de que a busca por "espaços seguros" tende a descambar para um autoritarismo repleto de preconceitos sobre o outro.<br />
<br />
Também admito que é um equívoco subordinar juízos estéticos a juízos morais, embora não por motivos ontológicos, mas sócio-históricos. Explico-me a seguir.<br />
<br />
Não vejo como separar completamente uma coisa da outra, pois, assim como argumenta Bakhtin, considero que arte, religião, ciência, direito, política, etc, são parte da unidade da cultura humana e tornam-se campos peculiares justamente pelos contrastes que há entre eles dentro de tal unidade.<br />
<br />
Assim, enxergo que a grande autonomia que a arte têm hoje é uma conquista social, política e histórica da criatividade humana, que se manifesta também no discurso da vida, do cotidiano, onde as pessoas exercem sua liberdade por meio de jogos de linguagem cheios de paródias, ironias, metáforas, dentre outros, isto é, afastando-se da ditadura da literalidade e desafiando as forças centrípetas que negam a diversidade e o livre arbítrio humanos.<br />
<br />
A propósito, a existência da literalidade pode ser questionada aqui. Parece-me, na verdade, um conceito eivado de ideologia. Precisamos lembrar então de estudos linguísticos que vêem toda a linguagem humana como sendo de natureza metafórica, a começar pelo já citado Bakhtin e seguindo com Barthes, dentre outros.<br />
<br />
Outro ponto que ainda acho válido discutir é o uso do modo imperativo em discursos persuasivos. Na propaganda, por exemplo, há estudos que indicam a força do imperativo, como também há pesquisas que apontam para a importância do poético no trabalho de influência (o João Carrascoza, em seus livros sobre redação e estratégias criativas na publicidade, escreve bastante sobre essa diferença entre o discurso apolíneo e o discurso dionisíaco).<br />
<br />
Aliás, a a linguagem figurada é um recurso empregado abundantemente em livros sagrados bastante persuasivos como a Bíblia, o Alcorão, os sutras, além de narrativas mitológicas que fazem parte da construção social da realidade de muitos povos (os gregos na época de Homero por exemplo).<br />
<br />
Enfim, não é preciso ser literal, nem imperativo, para exercer uma influência profunda sobre as pessoas - talvez seja o contrário disso.<br />
<br />
Segundo interpreto, nos textos, o Rodrigo, reconhece a dimensão social da arte e do entretenimento enquanto manifestação estética. É o que ocorre quando ele menciona a base social a partir da qual o funk se apresenta como uma manifestação estética, aspecto que merece mais consideração no debate público que há hoje em dia sobre o tema.<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-72539298817676010192018-01-11T09:02:00.000-03:002018-01-11T09:02:00.367-03:00Para onde vai a sociedade em 2018<i>Héber Sales</i><br />
<br />
<br />
Fim de ano. Queremos saber o que nos aguarda em 2018. Como podemos descobrir o que vai ser da sociedade nos próximos anos? Notem o seguinte.<br />
<br />
Quanto mais urbanos ficamos, mais valor damos à natureza. Quanto mais virtuais, mais buscamos a vida real. Quanto mais fragmentados nas redes sociais on-line, mais assistimos à TV aberta.<br />
<br />
Como se vê, há um modo relativamente confiável de prever certo tipo de mudança: uma vez consolidada, uma tendência alimentará em breve uma força contrária.<br />
<br />
O princípio não é novo. O "Tao Te Ching", escrito 3 séculos A.C., já falava dele. A teoria dialógica de Mikhail Bakhtin, no século passado, também, com sua ideia de interação entre forças centrípetas e forças centrífugas no campo sociocultural.<br />
<br />
Esse co-surgimento de tendências opostas, porém, não é um dado da natureza, mas depende de como a nossa mente discursiva e linguageira compreende os fenômenos: dialogicamente.<br />
<br />
O movimento da Nova Direita no Brasil, por exemplo, só pode ser plenamente entendido como uma resposta a muitos anos de hegemonia da esquerda no meio intelectual e artístico e, durante o governo do PT, nas políticas públicas.<br />
<br />
Diante de sua ascensão, podemos esperar um declínio da esquerda? Acho improvável. É mais certo haver uma reinvenção da esquerda, o que nos levaria à próxima etapa do jogo dialógico: o surgimento de uma Nova Esquerda.<br />
<br />
Para quem acha que a Nova Direita está avançando irresistívelmente, recomendo alguns exercícios rápidos no Google Trends, onde é fácil observar que o interesse por conteúdos de esquerda nos últimos anos cresce no mesmo ritmo acelerado do interesse em informações da direita.<br />
<br />
Obviamente, não se trata apenas de uma disputa ideológica. Interesses de classe podem levar a situações como a que assistimos durante o governo Lula: muitos dos seus aliados, que eram (e são) conservadores, podiam até não concordar com propostas como a inclusão de debates sobre gênero no currículo escolar, mas não se opunham abertamente a elas por priorizarem outros ganhos nessa aliança com o petismo.<br />
<br />
Outra evidência histórica das relações entre cultura, poder e economia é o surgimento e o fortalecimento do sistema de moda no ocidente desde o século XV. A quem interessava a valorização da novidade em detrimento da tradição e do imobilismo? À emergente burguesia mercantil, que enxerga na nova orientação ideológica uma justificativa e uma oportunidade de se tornar uma classe dominante.<br />
<br />
É por coisas assim que eu sugiro: se você quiser descobrir qual será a próxima onda, busque por forças centrífugas que estão desafiando, com base em um mindset alternativo, tendências já consolidadas e reconhecidas. Comece por aquelas forças que se opõe a elas mais frontalmente. Um monitoramento competente do que as pessoas estão buscando, comentando e fazendo na internet pode ajudar muito nisso.<br />
<br />
Para ir além nos conceitos que apliquei neste texto, recomendo três leituras:<br />
<br />
- Dois livros de Bakhtin/Volochinov: "O Freudismo" e "Marxismo e Filosofia da Linguagem", que propõem o dialogismo e discutem a dinâmica das forças socioideológicas.<br />
<br />
- O livro "Cultura e Consumo", de Grant McCracken, que propõem um modelo de manufatura e movimento de significados na sociedade do consumo.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-5774869489786150822017-12-02T19:31:00.000-03:002017-12-02T19:31:20.717-03:00O artista, o cientista e o evangelista<i>Héber Sales</i><br />
<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3sV5WdBJtbO1wNsix_QW_173_IyjEisuPHOT6Rl7cO2vWXfYV9XqMigsqsBKDzPOe5Z3iQLX478VRL5-bCTcmhAQnDWVSSqGH63Nn3wSInhjfuSy6GO-mpe-0NNijdu3yKvMbMxQY2Nc3/s1600/philosopher-and-poet.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="650" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3sV5WdBJtbO1wNsix_QW_173_IyjEisuPHOT6Rl7cO2vWXfYV9XqMigsqsBKDzPOe5Z3iQLX478VRL5-bCTcmhAQnDWVSSqGH63Nn3wSInhjfuSy6GO-mpe-0NNijdu3yKvMbMxQY2Nc3/s320/philosopher-and-poet.jpg" width="260" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">"Il poeta e il filosofo", Giorgio de Chirico (1916)</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
O artista, o cientista e o evangelista. Três intérpretes da condição humana, três diferentes destinos do ato de interpretação na unidade da cultura.<br />
<br />
Sobre as dificuldades e conflitos do amor, por exemplo, o cientista quer identificar a realidade desse sentimento, construir uma teoria que o reflita fielmente - ainda que esse fragmento da realidade, para que se torne objeto significante, precise encontrar seu lugar em um sistema cultural qualquer. Ele pode dizer, como fez Mira y López, que o amor "é, por definição, um processo complexo e contraditório que não pode ser situado nem limitado concretamente em um determinado setor conceitual".<br />
<br />
Diante de tal complexidade, o evangelista vai sugerir uma regra de conduta moral que proteja a nossa paz de espírito e, com intenção semelhante à de um legislador, a harmonia da comunidade: é bom que o homem não toque em mulher, mas, se for para viver abrasado, é melhor que se case, escreveu o apóstolo Paulo em sua primeira carta aos coríntios.<br />
<br />
O artista, por sua vez, argumenta Mikhail Bakhtin em <i>O Problema do Conteúdo, do Material e da Forma</i>, vai unir e completar intuitivamente o conteúdo que na vida eticamente vivida apresenta-se dilacerado - constante mandamento insatisfeito -, transferindo-o para um novo plano de significado e valor, para uma existência de beleza isolada e acabada, axiologicamente segura de si. Como neste famoso poema de Camões, eu diria.<br />
<br />
Amor é fogo que arde sem se ver;<br />
É ferida que dói, e não se sente;<br />
É um contentamento descontente;<br />
É dor que desatina sem doer.<br />
<br />
É um não querer mais que bem querer;<br />
É um andar solitário entre a gente;<br />
É nunca contentar-se de contente;<br />
É um cuidar que ganha em se perder;<br />
<br />
É querer estar preso por vontade;<br />
É servir a quem vence, o vencedor;<br />
É ter com quem nos mata, lealdade.<br />
<br />
Mas como causar pode seu favor<br />
Nos corações humanos amizade,<br />
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-89348797367203655332017-03-05T17:18:00.002-03:002017-05-23T14:32:50.499-03:00Design thinking para publicitários(working paper)<br />
<i><br /></i>
<i>Héber Sales</i><br />
<br />
<br />
Ouvimos cada vez mais falar de <i>design thinking</i> na publicidade. Para muitos, parece ser uma grande novidade, uma tendência que precisamos seguir. Quem, porém, for estudar o assunto com mais profundidade, vai notar que a publicidade já faz <i>design thinking</i> há muito tempo, e, muitas vezes, de modo muito mais radical. Explico-me.<br />
<br />
O <i>design thinking</i> baseia-se na suposição de que, para sermos mais criativos, precisamos dividir o nosso trabalho em duas etapas: 1) geração de ideias; 2) seleção de ideias. O arranjo foi proposto por Edward de Bono. No seu livro <i>Lateral Thinking</i> (2010), ele sugere que, para evitar bloqueios criativos e a fixação nas soluções mais óbvias e convencionais, devemos estimular primeiro o pensamento divergente, o qual explora livremente, sem críticas de terceiros ou auto-críticas, as mais diversas possibilidades de solução. Só depois disso, deve-se passar à análise e à síntese das ideias, escolhendo a que for melhor.<br />
<br />
Pois bem, no <i>design thinking</i>, duplica-se essa estrutura criativa básica, aplicando ambos os tipos de pensamento tanto no diagnóstico quanto na solução de problemas. Graficamente, essa abordagem é representada por um duplo diamante (COUNCIL, 2007).<br />
<br />
A imagem abaixo resume como o duplo diamante funciona no design e na publicidade. Nos próximos parágrafos, explico os paralelos entre as duas disciplinas.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdXg1WCL-oUTDzTInSLZYHsItUgbhlHPw_fRfxPuYG_vDVWj1lvm56WLXnDjUycuubIWXp5tKfcUmUsTLlVIAW_hgTj_MaKtae4Jp3sFj721103RVMkMbym-s9tEe4wBvMlLbJb0jQ_-ry/s1600/diagrama-h.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="292" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdXg1WCL-oUTDzTInSLZYHsItUgbhlHPw_fRfxPuYG_vDVWj1lvm56WLXnDjUycuubIWXp5tKfcUmUsTLlVIAW_hgTj_MaKtae4Jp3sFj721103RVMkMbym-s9tEe4wBvMlLbJb0jQ_-ry/s400/diagrama-h.png" width="440" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O duplo diamante no design e na publicidade</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
<h3>
Diagnóstico e planejamento</h3>
<br />
Na fase de diagnóstico, que corresponde ao primeiro diamante, o <i>design thinking</i> recorre ao pensamento divergente para explorar o contexto e as mais diferentes explicações para o problema que a equipe de projeto deve resolver (etapa de imersão). Depois disso, por meio do pensamento convergente, analisa os dados acumulados em busca de padrões que revelam a real natureza do problema que está sendo investigado (etapa de síntese).<br />
<br />
A publicidade possui uma abordagem bastante similar, a qual corresponde ao trabalho do setor de planejamento das agências. O que no <i>design thinking</i> é chamado de imersão, no planejamento publicitário chamamos simplesmente de pesquisa - é com base nela que depois, através do pensamento convergente, vamos selecionar alguns <i>insights</i> que, apresentados no <i>briefing</i>, servirão para orientar e inspirar o pessoal de criação.<br />
<br />
<br />
<h3>
Soluções criativas</h3>
<br />
O trabalho da criação, por sua vez, tem o seu próprio diamante, cuja primeira metade corresponde ao esforço de gerar e explorar ideias, buscando referências e "rafeando" (ou rascunhando) sempre, Depois disso, o processo torna-se convergente e envolve o desenvolvimento de conceitos que serão testados e aprimorados antes de se começar a produzir a campanha propriamente dita.<br />
<br />
No <i>design thinking</i>, há um processo similar a esse, que se divide respectivamente nas etapas de ideação e de prototipação. É o seu segundo diamante da estrutura do duplo diamante.<br />
<br />
<br />
<h3>
Design thinking e publicidade</h3>
<br />
Quer dizer então que o design thinking joga o mesmo jogo que jogamos na publicidade, só que, como comentou um aluno meu, "com esquema tático e nome bonitinho"?<br />
<br />
Curiosamente, essa frase irreverente já nos dá uma pista da diferença entre as duas disciplinas. O <i>design thinking</i> é mais instrumental e sistemático, com uma caixa cheia de ferramentas (FERREIRA e PINHEIRO, 2013). Algumas podem ser bastante úteis na publicidade, outras servem mais para modelar produtos, serviços e negócios.<br />
<br />
Na publicidade, há um foco maior na mensagem e na comunicação; no <i>design</i>, a ênfase está na experiência do consumidor (antes, durante e depois da compra e uso do produto ou serviço).<br />
<br />
Na publicidade, buscamos surpreender o interlocutor com uma conversa inusitada, interessante e estimulante; no <i>design</i>, a ênfase está na adequação de uma solução às necessidades do usuário.<br />
<br />
Na publicidade, podemos começar uma entrevista sem roteiro nenhum ou até fazer uma entrevista invertida, só para não limitar a conversa ao nosso ponto de vista e à nossa agenda, o que poderia criar um viés e limitar as descobertas. No <i>design</i>, geralmente há esquemas e <i>check-lists</i> para tudo.<br />
<br />
Enfim, a publicidade é mais "transgressora", irreverente e iconoclasta, eu diria, assim como a frase do meu aluno, que, aliás, já trabalha na área de criação - como vocês podem ver, tem tudo a ver com ele.<br />
<br />
A publicidade, a propósito, muitas vezes olha com desconfiança para as abordagens mais estruturadas, típicas do <i>design</i>, pois, para ela, a falta de método é, em si mesma, um bom método para produzir aqueles imprevistos que nos levam às descobertas mais inesperadas e, por isso até, potencialmente mais disruptivas. Nesse aspecto, como discuti num outro ensaio (SALES, 2017), o publicitário age muito mais <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2017/02/creative-thinking-o-processo-criativo.html" target="_blank">como um artista</a> do que como um <i>designer</i>.<br />
<br />
<br />
<h3>
O duplo diamante da publicidade</h3>
<br />
Para deixar mais claros todos esses pontos, estamos lapidando, no grupo de estudos que coordeno, o duplo diamante da publicidade. A imagem abaixo mostra os seus principais planos ou dimensões. Explicarei cada uma das suas facetas num próximo ensaio. Por enquanto, segue um breve resumo. Além das referências citadas ao final, uma fonte importante para compreender esta abordagem é o modelo de <a href="https://brandinghipercultural.blogspot.com.br/p/branding.html" target="_blank">branding hipercultural</a> que desenvolvo numa pesquisa paralela à esta.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9WoUrjlFeaa636_mM1oWDLVhIJy5XVGu67QPU87tlZ78jw8nX0PF6IO6N2sH8ANDy55nYtMs32fam4lkAzy6-iTmYcwuOqNP1sOz-qHWyEaPhEdTibPAB6byFjT6rs37f_Xk3a34fs-ls/s1600/Duplo+diamante+na+publicidade+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9WoUrjlFeaa636_mM1oWDLVhIJy5XVGu67QPU87tlZ78jw8nX0PF6IO6N2sH8ANDy55nYtMs32fam4lkAzy6-iTmYcwuOqNP1sOz-qHWyEaPhEdTibPAB6byFjT6rs37f_Xk3a34fs-ls/s400/Duplo+diamante+na+publicidade+%25281%2529.jpg" width="440" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O duplo diamante na publicidade</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
Todo o processo se inicia com a seguinte pretensão do cliente da agência: ele quer obter uma certa <b>resposta</b> junto a um ou mais públicos determinados.<br />
<br />
Ao percorrer o duplo diamante, definimos <b>o que dizer</b> no primeiro diamante e <b>como dizer</b> no segundo.<br />
<br />
Na fase de <b>pesquisa</b>, usamos métodos que nos permitem compreender em profundidade as pessoas com quem desejamos conversar, especialmente os conflitos que vivem e como respondem a eles por meio de <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2012/10/mitos-de-identidade-no-branding.html" target="_blank">mitos de identidade</a>. Queremos saber o que sentem e o que pensam a respeito, quais valores às guiam nesses dramas e projetos, como agem nesse processo. Precisamos descobrir também como essas pessoas percebem os vários concorrentes nesse contexto, que tipo de aliados eles são para elas na aventura de suas vidas, como eles se posicionam em relação aos valores que norteiam as suas escolhas.<br />
<br />
Na fase de <b><i>briefing</i></b>, selecionamos um dos muitos mitos de identidade que animam e orientam as escolhas das pessoas com quem queremos conversar. Qual deles encarna os valores que a marca compartilha com o seu público? Qual tem mais a ver com o posicionamento e a <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2012/10/autoridade-cultural-de-marca-nas-midias.html" target="_blank">autoridade cultural</a> da marca? Esse é o mito que irá inspirar a história que será contada na campanha. <br />
<br />
Na etapa de <b>criação</b>, já no segundo diamante, imaginamos várias histórias alternativas, que podem ser registradas inicialmente na forma de rafes e <i>pitchs</i>. Exploramos também os contextos em que essas histórias farão mais sentido e como elas poderão ser enriquecidas e enfatizadas pelos mais diversos meios, formatos, elementos do <i>mix</i> de marketing (preço, produto e ponto) e de comunicação (relações públicas, eventos, etc). Além do pensamento divergente, outras <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2017/02/creative-thinking-o-processo-criativo.html" target="_blank">abordagens criativas</a> são acionadas aqui, entre elas o pensamento homoespacial e a livre associação de ideias. Precisamos bolar uma história que traga um ponto de vista singular sobre o mito de identidade proposto pelo <i>briefing</i>, um ponto de vista que seja relevante para o público e que revele a originalidade, a maestria e a relevância da própria marca, transformando-a desse modo num daqueles <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2012/05/marca-como-autor-virtual.html" target="_blank">autores virtuais</a> favoritos, sobre os quais as pessoas conversam com empolgação.<br />
<br />
Finalmente, na etapa de <b>conceituação</b>, os rafes e <i>pitchs</i> gerados na fase anterior são testados, aprimorados e finalizados. Em primeiro lugar, tendo em vista o modo como o público pode receber e interpretar cada uma das histórias concebidas (se a mensagem chama atenção, se é clara, se "prende", se persuade, se alcança a resposta desejada enfim). Além disso, é preciso considerar como a tal impacto pode variar de acordo com as diferentes possibilidades de manifestação (ou realização) das histórias e com a eficiência dos meios considerados.<br />
<br />
<br />
<h3>
Referências:</h3>
<br />
COUNCIL, Design. <a href="http://www.designcouncil.org.uk/resources/report/11-lessons-managing-design-global-brands" target="_blank">Eleven lessons: Managing design in eleven global companies-desk research report</a>. <b>Design Council</b>, 2007.
<br />
<br />
DE BONO, Edward. <b>Lateral thinking: a textbook of creativity</b>. Penguin UK, 2010.<br />
<br />
FERREIRA, Luis; PINHEIRO, Tennyson. <b>Design Thinking Brasil: empatia, colaboração e experimentação para pessoas, negócios e sociedade</b>. Elsevier Brasil, 2011.<br />
<br />
SALES, R. Héber. <a href="https://brandinghipercultural.blogspot.com.br/p/branding.html" target="_blank"><b>Branding hipercultural</b></a>. 2016.<br />
<br />
______________. <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2017/02/creative-thinking-o-processo-criativo.html" target="_blank"><b>Creative hacking: o processo criativo na arte e no branding</b></a>. Working paper, 2017.<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-44107572295153582412017-02-24T13:02:00.000-03:002017-04-02T15:40:55.112-03:00Ligando os pontos na publicidade de um museu<i>Héber Sales</i><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhz6y9npW3ezCYQ7BHnIyThfdc-FlF2GgHgNrXppl5eJxNAUtTrWq-f1oC3MlTKtSlIlVLvAli3F6GzpLBsALOmri-04Btl2iIwY6Pgo7O8wkc9S4XyVwdSVyvrJK1woOw6dOwoKRO9avKq/s1600/zzz-guggenheim-large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhz6y9npW3ezCYQ7BHnIyThfdc-FlF2GgHgNrXppl5eJxNAUtTrWq-f1oC3MlTKtSlIlVLvAli3F6GzpLBsALOmri-04Btl2iIwY6Pgo7O8wkc9S4XyVwdSVyvrJK1woOw6dOwoKRO9avKq/s400/zzz-guggenheim-large.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Guggenheim Bilbao</td></tr>
</tbody></table>
<br />
É quase impossível mudar uma ideia enraizada na mente das pessoas. O truque é: para persuadir, concorde primeiro. Depois mostre o que a sua marca ou serviço tem a ver com o conceito que o consumidor já tem na cabeça.<br />
<br />
"Museu é coisa tradicional". É o que pensa muita gente. Você não vai mudar isso. Vai apenas buscar as palavras bacanas associadas ao "tradicional".<br />
<br />
Você é um bom <i>planner</i>. Tem ampla cultura geral, é bem informado. Sabe de tudo um pouco.<br />
<br />
Sabe que, na moda, novas coleções resgatam cores, cortes, estilos, peças do passado. Seu público também sabe disso. O passado sugere tendências, é fonte de "inspiração", uma palavrinha que algumas pessoas associam a museu também.<br />
<br />
Além disso, o "antigo" é, em nossa cultura (e em muitas outras), associado a sabedoria e mistério. Ora, não existem gurus adolescentes, muito menos crianças, não é?<br />
<br />
(Mas no filme Matrix, sim, do mesmo jeito que em Dexter há um herói que é um psicopata serial killer. Ah, esses criativos... Eles são mesmo uns danados, ligam os pontos de um jeito diferente).<br />
<br />
O guru, o sábio, via de regra, é velho, tão velho que ninguém sabe direito a idade dele. Talvez seja um imortal. Como o mestre Yoda, na saga Star Wars, ou o Mestre dos Magos, da Caverna do Dragão.<br />
<br />
O museu pode ser reposicionado como uma fonte de inspiração? Como um desses gurus imortais? Como um <i>hub</i> ou um radar de tendências? A proposta da última <a href="http://www.32bienal.org.br/" target="_blank">Bienal</a> era esta. É também o que a gente vê na arquitetura de muitos museus hoje em dia, como o Guggenheim Bilbao.<br />
<br />
Aliás, em um exercício de pesquisa, alguém associou "museu" à palavra "perspectivas". É por aí que vamos reposicionar a categoria? E se for um museu com o maior acervo, a maior quantidade de exposições? Ele oferece mais perspectivas? É um super radar de tendências?<br />
<br />
Notem, o <i>planner</i> está conseguindo ligar pontos muito diferentes porque é um curioso de plantão, um observador atento e participante da vida cultural, sempre bem informado sobre tudo - não vive só a publicidade, vive muito a rua, o mundo, várias comunidades, transita por inúmeras "tribos".<br />
<br />
Como ele poderia ser mais sistemático nesse estudo? Que métodos, técnicas e ferramentas usaria?<br />
<br />
Aqui mesmo no blog, já expliquei como a etnografia pode ajudar no post <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2011/02/como-fazer-uma-netnografia.html" target="_blank">como fazer uma netnografia</a> (ou etnografia online). Você pode ver ainda <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2011/07/analise-semiotica-em-netnografias-de.html" target="_blank">como funciona a análise semiótica</a> nesse tipo de pesquisa.<br />
<br />
E aqui está um <a href="http://www.ibpad.com.br/o-que-fazemos/publicacoes/monitoramento-e-pesquisa-em-midias-sociais-metodologias-aplicacoes-e-inovacoes/#olivro" target="_blank">livro de monitoramento e análise de mídias sociais</a> que apresenta a netnografia e alguns outros métodos de pesquisa online (é <i>free</i>).Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-4061436854793312902017-02-06T20:14:00.001-03:002017-02-07T20:18:07.783-03:00Creative hacking: o processo criativo na arte e no branding<i>Héber Sales</i><br />
<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
"<i>Os bons artistas copiam, os grandes artistas roubam.</i>"</div>
<div style="text-align: right;">
Pablo Picasso</div>
<br />
<br />
Este ensaio deve muito ao crítico Will Gompertz, que, no livro <i>Pense como um artista</i> (2015), explica o processo criativo na arte. Para os veteranos, a obra não traz tanta novidade. Porém, sua leitura vale à pena por esmiuçar o método de vários artistas e obras famosas. Além disso, é uma boa oportunidade para organizar as ideias sobre o tema. Já para os calouros, recomendo: é uma obra para ter na cabeceira.<br />
<br />
A estrutura do que apresento a seguir baseia-se em grande parte no processo sugerido por Gompertz. Há, no entanto, outras influências, além da minha própria experiência: aquelas que reuni em meu programa de pesquisa sobre <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/p/publcidade.html" target="_blank">arte, cultura e publicidade</a>, entre as quais destaco Bakhtin (2014), Greimas (2004), Floch (1985), Schaeffer (2004) e Volli (2003).<br />
<br />
A propósito desse programa, sugiro, como um pré-requisito ao estudo deste texto, a leitura do ensaio <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2016/09/publicidade-e-arte.html" target="_blank">Publicidade é arte?</a> Vai ajudar a esclarecer as semelhanças e diferenças entre esses dois ofícios que aqui se combinam mais uma vez.<br />
<br />
O que isso tudo tem a ver com <i>hacking</i>? Como veremos mais adiante, no capítulo 3, quando se trata de criatividade, o roubo é a alma do negócio.<br />
<br />
Para continuar lendo, clique <a href="https://docs.google.com/document/d/1tmptbxBFy8R42nX43YSs0YK8v5327gFVFiUU8T651mI/edit?usp=sharing" target="_blank">aqui</a>.<br />
<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYtvSe9Ax0CfRdvntJu42t4grvrn2xI6kiYFsZz90nVR3IHCKvw8ihwgk-jDf3VOZwEEsWWlkZiCVhyphenhyphenLHJDnpGOias6jleoMC41udNmoagY3sBf-gFf0YkkEuS_PcGZGP1GHvkw6GtxJoX/s1600/coca-cola_andy_warhol_3_bottles.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYtvSe9Ax0CfRdvntJu42t4grvrn2xI6kiYFsZz90nVR3IHCKvw8ihwgk-jDf3VOZwEEsWWlkZiCVhyphenhyphenLHJDnpGOias6jleoMC41udNmoagY3sBf-gFf0YkkEuS_PcGZGP1GHvkw6GtxJoX/s640/coca-cola_andy_warhol_3_bottles.jpg" width="475" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br />
"Coca-Cola 3 bottles" (1962), Andy Warhol</td></tr>
</tbody></table>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-51087650770452209092016-11-07T15:56:00.000-03:002016-11-20T07:59:11.321-03:00Filosofia da arte à luz da semióticaO que é arte? Os debates a respeito são infindáveis e, até hoje, muito marcados por divergências. Qualquer livro de introdução ao assunto procura enfatizá-las muito bem. O que nem sempre fica claro nesse tipo de obra, entretanto, são certos consensos implícitos entre as várias teorias. Neste <i>working paper</i>, discuto alguns deles por meio da releitura semiótica de um desses trabalhos: o livro <i>A Arte</i>, de Rogério Duarte (2012). <a href="https://docs.google.com/document/d/1LVtg4oWTKyM0-cxQzetcZ4liPG_IIM_ERyQOgdQO_cA/edit?usp=sharing" target="_blank">Continue lendo</a><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicHHKYV0IHqm-psokTK0fSuAJnLjGcAvuzkewu4BpOKMsiCdCJa_gLPXao4fUh8A7ojvYcxBy3D52t0_z-o1yvGI1tFZjOXfWoSj_XncXVD39XEYuhaRpfi0xYaowxR2RqBl4lIrkO_Z8S/s1600/Bradley-Warhol.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicHHKYV0IHqm-psokTK0fSuAJnLjGcAvuzkewu4BpOKMsiCdCJa_gLPXao4fUh8A7ojvYcxBy3D52t0_z-o1yvGI1tFZjOXfWoSj_XncXVD39XEYuhaRpfi0xYaowxR2RqBl4lIrkO_Z8S/s400/Bradley-Warhol.jpg" width="480" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Orange car crash fourteen times (1963), Andy Warhol</td></tr>
</tbody></table>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-67808131419969848192016-10-14T08:51:00.000-03:002016-11-03T15:51:00.046-03:00Comece com um rascunho, continue com ele<h3>
A pesquisa como um protótipo</h3>
<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: right;">
"Não comece com uma folha em branco. Comece com um rascunho." - John Hegarty</blockquote>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdhxanfz85YEmw7wWUiCLB70PI3rt0fokN08Wa2DSls9cn6x9ZxM4MMDW16WMgxnNuPkj_HtmhCXiDzRqDt7mi-JBzkFK0o9TRFhnIPqTojCWDk9oTwjDhwn1oCDx8dqFV9fDttY3RmKva/s1600/prototipo-de-argila-revela-possiveis-tracos-do-novo-gol-1428352410354_956x500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="208" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdhxanfz85YEmw7wWUiCLB70PI3rt0fokN08Wa2DSls9cn6x9ZxM4MMDW16WMgxnNuPkj_HtmhCXiDzRqDt7mi-JBzkFK0o9TRFhnIPqTojCWDk9oTwjDhwn1oCDx8dqFV9fDttY3RmKva/s400/prototipo-de-argila-revela-possiveis-tracos-do-novo-gol-1428352410354_956x500.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
Assim como uma semente, cada pesquisa nasce como um protótipo: ela é um todo orgânico, que replica em miniatura o artigo ou livro que poderá ser um dia.<br />
<br />
Às vezes isso acontece de modo mais claro e acabado. Outras vezes, de um jeito mais vago. Mas sempre acontece. Se você não perceber logo a existência desse mundo conceitual e não tratá-lo como algo que, apesar de ínfimo, é completo, ele se desintegrará e desaparecerá irremediavelmente nas profundezas do inominável.<br />
<br />
Falemos de modo prático, um passo de cada vez.<br />
<br />
<br />
<h4>
O primeiro protótipo</h4>
<br />
Sempre que fazemos uma pergunta, junto com ela já aparece uma provável resposta. No senso comum, a confusão entre esses termos é tão grande que a dúvida costuma mergulhar numa daquelas teorias populares e sumir.<br />
<br />
Os ditados são um bom exemplo disso. A frase "a beleza está nos olhos de quem vê" é uma pequena tese que, no dia a dia, é repetida à exaustão sem que, na maioria da vezes, alguém questione se não haveria mesmo um senso universal de beleza inerente ao ser humano, o qual asseguraria a admiração dos mais variados povos de diferentes épocas diante de cenas como as do monte Fuji com seu topo coberto de neve, ou mesmo, caso admitíssemos a relatividade da beleza, nos perguntássemos o que faz com que as pessoas tenham gostos tão variados entre si.<br />
<br />
O senso comum geralmente não pára para pensar nessas coisas. Algumas mentes mais inquietas e céticas, sim, entre elas a do cientista e a do filósofo - a do artista e a do poeta também.<br />
<br />
O primeiro passo de todo pesquisador é pois extrair a dúvida de dentro de afirmações do tipo. Como se faz isso? Com as seguintes perguntas.<br />
<br />
Onde está o ponto cego de uma teoria qualquer, seja ela popular, científica ou filosófica, que dá uma resposta duvidosa sobre algum assunto que lhe interessa? O que ela não vê? O que pretende ver mas ainda não enxerga direito? Ainda mais delicado: o que ela deixa de fora do seu campo de visão simplesmente porque a confunde e mina a sua autoridade?<br />
<br />
Pronto, é desse jeito que construímos um primeiro protótipo feito de duas peças: uma teoria, que oferece uma resposta (uma hipótese) para a questão que nos intriga, e pelo menos uma pergunta que a desafia. A partir daí, colocamos o nosso protótipo para rodar, sujeitando-o a atritos, torções, pressão e calor. Assim, veremos até onde ele pode chegar sem maiores danos ou falhas.<br />
<br />
<br />
<h4>
Um exemplo prático</h4>
<br />
Na verdade, não se trata de um protótipo feito de duas peças, mas de dois conjuntos de peças. Tanto a teoria quanto a questão de pesquisa são constituídas, cada uma delas, por uma série de elementos articulados entre si. Eles precisam ser reconhecidos, polidos, ajustados e lubrificados para a máquina funcionar direito. Recorrer a quem entende do assunto ajuda muito nessa hora.<br />
<br />
Eis aqui um exemplo prático: o primeiro protótipo de uma pesquisa que venho tocando sobre a<a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com/2016/09/arte-cultura-e-publicidade.html" target="_blank">rte e publicidade na sociedade contemporânea</a>. Notem como nessa primeira versão uma teoria do cineasta Jean-Luc Godard é colocada em julgamento logo de cara, quando começo a trabalhar o seu primeiro elemento, o conceito de cultura. Nessa tarefa, contei com a ajuda do antropólogo Clifford Geertz, com que eu já tinha um bom entrosamento desde os tempos do meu mestrado.<br />
<br />
Na sequência do texto, outros elementos ganham forma do mesmo modo. Em alguns casos, eles são tão complexos que vão para uma oficina só deles. É o que ocorre quando remeto o leitor a um outro ensaio meu por meio de um link.<br />
<br />
Um desses casos é o texto sobre <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com/2016/10/o-divorcio-do-artista-com-cultura.html" target="_blank">o divórcio do artista com a cultura</a>. Na verdade, ele parece uma peça, mas é o próprio protótipo dando uma das suas primeiras voltinhas. Vejam como nele as outras peças também aparecem e rodam, especialmente as três que estão na parte dianteira desta frase que se move e resume o projeto: subjetividade-cultura-e-arte-na-publicidade-contemporânea.<br />
<br />
A voltinha, no caso, é um passeio por um livro do filósofo russo Mikhail Bakhtin, terreno em que a primeira versão da minha pesquisa, a qual, conforme descrevo no texto sobre <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com/2016/10/o-mal-estar-da-cultura-e-o-consolo-da.html" target="_blank">o mal-estar da cultura e o consolo da arte</a>, deve muito a uma ajudinha de Freud, revela algumas faltas e fragilidades.<br />
<br />
<br />
<h4>
O tempo não para</h4>
<br />
Não é nada que me desespere, muito pelo contrário. Pois é assim mesmo que a brincadeira funciona - é a graça da coisa. Depois de cada saída, o projeto de pesquisa volta para a garagem, onde passa por consertos e reformas. Em algum momento, um novo protótipo, maior, mais completo e bem acabado, é montado e se inicia uma outra bateria de testes, que podem ser por outros livros ou por dados empíricos coletados sistematicamente.<br />
<br />
Um dia, de protótipo, ele pode virar um modelo comercial e comparecer a um congresso, uma revista ou uma prateleira de livraria, sem que, no entanto, esteja concluído para sempre. Você mesmo pode revisá-lo nas próximas edições, ou algum leitor seu pode desmontá-lo e refazê-lo de um jeito um pouco diferente, desenvolvendo dessa forma o seu próprio artefato.<br />
<br />
É como dizia Cazuza, "o tempo não para".<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-89964815189620348712016-10-12T12:02:00.000-03:002016-10-13T10:13:56.055-03:00O divórcio do artista com a cultura<h3>
Uma releitura de Freud à luz de Bakhtin</h3>
<div style="text-align: right;">
<i><br /></i>
<i>Héber Sales</i></div>
<br />
No campo das ciências sociais, dentre as críticas mais completas à psicanálise, <i>O Freudismo</i>, livro do filósofo Mikhail Bakhtin publicado em 1927, é um dos primeiros, mais diretos e, descontando-se o que há nele de datado, mais consistentes ataques já feitos, tornando-se, portanto, uma referência incontornável no debate sobre o velho tema psicanalítico do mal-estar do sujeito perante a cultura, questão que, conforme discuti em um ensaio anterior, faz parte da minha pesquisa sobre <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com/2016/09/arte-cultura-e-publicidade.html" target="_blank">subjetividade, cultura e arte na publicidade contemporânea</a>.<br />
<br />
Para compreender o que será discutido agora, é necessário entender também o que já escrevi sobre a <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2016/10/o-mal-estar-da-cultura-e-o-consolo-da.html" target="_blank">teoria freudiana</a>, pois aqui veremos como Bakhtin reconstrói inteiramente os conflitos pessoais do sujeito da psicanálise em termos de conflitos socioeconômicos e culturais.<br />
<br />
Para o filósofo russo, a luta entre o consciente e o inconsciente não passa, na verdade, de uma projeção na alma individual da luta entre duas camadas da "<i>ideologia do cotidiano</i>": a "<i>consciência oficial</i>" e a "<i>consciência não-oficial</i>".<br />
<br />
Se considerarmos que a noção de ideologia do cotidiano nesse livro de Bakhtin equivale aproximadamente ao conceito de cultura que venho usando na minha <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2016/09/arte-cultura-e-publicidade.html" target="_blank">pesquisa</a>, podemos concluir que, contra a cultura, não se opõe um sujeito qualquer, mas uma parte dela mesma: a "consciência não -oficial" de um sujeito culturalmente constituído (cultura e sujeito seriam apenas duas manifestações de uma mesmo processo de formação ideológica).<br />
<br />
Como pôde Bakhtin dar tal passo a partir de sua crítica ao freudismo? Na verdade, não foi um, mas vários passos. Revisemos o percurso.<br />
<br />
<br />
<h4>
O caráter ideológico do psiquismo e do inconsciente</h4>
<br />
Os elementos da vida psíquica, que, em Freud, recebem uma nova nomenclatura - inconsciente, consciente, Eu, Isso, Supereu, etc. -, não passam, segundo Bakhtin, de velhos conhecidos da psicologia subjetiva: a vontade (desejos, aspirações), o sentimento (emoções, afetos) e o conhecimento (sensações, representações, pensamentos).<br />
<br />
Nesse grande ramo da psicologia há um problema porém: aquilo que ela identifica como os elementos da vida psíquica "só existem para a consciência", já que é por meio da introspecção e da fala que se teria acesso a eles. Como o próprio Freud reconhece, tal método é incapaz de nos levar além da "consciência oficial".<br />
<br />
Ë preciso lembrar que a introspecção é tendenciosa ("não pode livrar-se das avaliações)" e, ao mesmo tempo, "racionaliza demasiadamente a vida psíquica e, por isso, os seus testemunhos exigem uma elaboração substancial". Como resultado, o que a psicanálise reconhece como inconsciente não passa de uma "analogia do consciente" - ela assume que, nesse território obscuro e intocado da psique, há os mesmos elementos que encontramos na consciência. Prova disso é que, na teoria freudiana, o inconsciente atua de modo "sumamente 'consciente' e ideológico", produzindo "entre as experiências emocionais uma seleção puramente lógica, ética e estética". De fato, acusa Bakhtin, "o que há menos neles é o mecânico" pressuposto por Freud (BAKHTIN, 2014, p. 69).<br />
<br />
<br />
<h4>
Como investigar o inconsciente</h4>
<br />
Além de paradoxal, cabe perguntar se esse método é cientificamente legítima. A resposta de Bakhtin é categórica. Para ele, é inadmissível passar de um nível ao outro da investigação psíquica mantendo a mesma abordagem, já que, "abandonada a consciência, [não faz] mais nenhum sentido conservar sentimentos, representações e desejos" (BAKHTIN, 2014, p. 69). Esse dados subjetivos, por mais que sejam reinterpretados pela psicanálise, "[permanecem] no terreno da experiência interior", sendo, portanto, a expressão de uma consciência e não de um mecanismo autônomo como o inconsciente, que agiria à revelia do sujeito, de modo totalmente ignorado por este.<br />
<br />
Caso se queira conhecer as forças objetivas reais que geram os comportamentos involuntários determinados inconscientemente, deve-se abandonar esses dados, argumenta Bakhtin, e desenvolver uma análise objetiva dos atos apoiada em "componentes materiais elementares do comportamento" (BAKHTIN, 2014, p. 70).<br />
<br />
Acontece que um desses componentes é precisamente o enunciado verbal. Foi com base nele que Freud tentou penetrar nas camadas mais profundas do psiquismo e revelar a sua dinâmica. Fez isso, porém, permanecendo nos limites do que o paciente tinha a dizer, sem considerar que toda fala tem "raízes fisiológicas e sociológicas" (BAKHTIN, 2014, p. 77).<br />
<br />
É a partir dessa constatação que Bakhtin tenta ir além de Freud, reelaborando o que a psicanálise trouxe de novo para a psicologia subjetiva - "a luta, o caos, e o infortúnio da nossa vida psíquica" (BAKHTIN, 2014, p. 75) - em termos mais objetivos, de caráter sociológicos.<br />
<br />
<br />
<h4>
A projeção de uma dinâmica social para a alma individual</h4>
<br />
Inicialmente, o filósofo russo questiona se podemos reconhecer como expressão do psiquismo individual de um sujeito aquelas enunciações que ocorrem durante uma sessão de terapia, dominada como ela é por inter-relações muito complexas do paciente com seu analista - enquanto o primeiro procura esconder algumas experiências emocionais e impor o seu ponto de vista sobre o seu sofrimento, o segundo tenta preservar a sua autoridade e busca obter revelações que confirmem as suas hipóteses, em um duelo pelo qual perpassam outros elementos como diferenças de campo, de idade, de posição social e de profissão.<br />
<br />
A resposta de Bakhtin à essa questão é categórica: "nenhuma enunciação verbalizada pode ser atribuída exclusivamente a quem a enunciou: é produto da interação entre falantes e, em termos mais amplos, produto de toda uma situação social em que ela surgiu". Ela já encontra prontas, em seu aspecto fundamental, aquelas formas linguísticas que emprega, as quais são produzidas por meio de "um longo convívio social de um determinado grupo de linguagem". O que a caracteriza precisamente - "a escolha de certas palavras, certa teoria da frase, determinada entonação [...] - é a expressão da relação recíproca entre os falantes e todo o complexo ambiente social em que se desenvolve a conversa" (BAKHTIN, 2014, p. 79).<br />
<br />
Para tornar ainda mais claro esse ponto, o filósofo emprega uma metáfora: "a palavra é uma espécie de "cenário" daquele convívio mais íntimo em cujo processo ela nasceu", o qual, por sua vez, "é um momento de um convívio mais amplo do grupo social ao qual pertence o falante". Para entender esse cenário que a palavra é, faz-se necessário reconstruir "aquelas complexas inter-relações sociais das quais uma dada enunciação é a interpretação ideológica" (BAKHTIN, 2014, p. 79-80).<br />
<br />
E tudo o que foi dito acima aplica-se também ao "discurso interior", pois ele dirige-se ao ouvinte eventual de uma comunidade linguística, tornando-se também desta forma a manifestação do convívio social.<br />
<br />
Assim devem ser vistas as enunciações nas quais se baseia a teoria freudiana, ou seja, como cenários de um pequeno acontecimento social: a sessão de psicanálise. Elas refletem não a luta do inconsciente contra a consciência individual do paciente mas, acima de tudo, a resistência ao terapeuta, ao ouvinte em geral - àquele outro enfim, que lhe interpela com suas exigências e concepções.<br />
<br />
Desse ponto de vista, o que seriam então todas aquelas vivências psíquicas que os pacientes relatam quando estão estendidos sobre um divã e falam dos seus desejos, sentimentos, pensamentos, prazeres e desprazeres? Apenas uma projeção através da qual se investe na alma individual um conjunto de inter-relações sociais. O fenômeno é bem conhecido na psicologia, que constata repetidamente que "as experiências emocionais, na maioria dos casos, apenas duplicam o mundo dos objetos externos e das relações sociais". Com efeito, sempre que a ciência tenta fixar um limite exato entre o sujeito e o objeto, termina por concluir paradoxalmente que esse limite não existe, que tudo depende do ponto de vista. "O mesmo objeto, dependendo da relação, do contexto que o interpretamos, vem a ser ora uma vivência psíquica (minha sensação, representação) ora um corpo físico ou um fenômeno social" (BAKHTIN, 2014, p. 80).<br />
<br />
<br />
<h4>
Fatores objetivos da dinâmica psíquica</h4>
<br />
Por meio de um outro mecanismo de projeção podemos explicar ainda, se seguirmos o raciocínio de Bakhtin, todos aqueles complexos que teriam sido recalcados no inconsciente durante a infância do sujeito. O que guardamos lá não é de modo algum uma revelação do passado, mas de sua interpretação do ponto de vista do presente. "No passado vemos apenas o que é essencial para o presente [...]. Nós transferimos do presente para o passado pré-consciente da criança, antes de tudo, o colorido ideológico valoral característico apenas do presente"(BAKHTIN, 2014, p. 81).<br />
<br />
Uma vez que retiramos deles todo esse revestimento semântico e valorativo, o que resta dos fatos da vida infantil - a excitabilidade precoce das zonas erógenas, a dificuldade em largar o corpo da mãe por um instante sequer, etc - não nos autoriza a concluir que, por exemplo, o Complexo de Édipo e todos os seus motivos - a "pulsão sexual pela mãe", o "pai-rival", a "hostilidade ao pai", o "desejo de sua morte" - tenham existência objetiva. Passar daqueles fatos para esta teoria é saltar de um plano de mensuração para outro. Acolá, flagramos forças materiais; aqui, uma luta de motivos criados por uma consciência forjada na e pela linguagem, uma "consciência que reflete a dialética da história em proporções bem maiores que a dialética da natureza" (BAKHTIN, 2014, p. 82-84).<br />
<br />
O que nos resta então estudar se nos propusermos a trabalhar nos termos e condições de uma psicologia objetiva? De um lado, os fatores fisiológicos, que afinal são insuficientes para explicar os atos humanos - especialmente aqueles conflitos de comportamento verbalizados com os quais Freud trabalhava - se a eles não juntamos, de outro lado, a análise da palavra. Isso porque, como já vimos, o conteúdo do psiquismo (entre eles os motivos do inconsciente) é uma expressão ideológica da consciência, para a qual as coisas só se tornam "reais" por meio do discurso, seja ele interior ou exterior. A palavra então, "no sentido sociológico mais amplo e concreto, é o meio objetivo em que nos é dado o conteúdo do psiquismo" (BAKHTIN, 2014, p. 84).<br />
<br />
<br />
<h4>
O conteúdo da consciência como ideologia</h4>
<br />
Assim como Freud, Bakhtin desconfia da consciência do indivíduo como fiel testemunha dos fatores que o levam a se comportar desta ou daquela forma. Ao contrário de Freud, porém, o russo vai além, e descarta de igual modo os motivos do inconsciente como explicação dos atos humanos, já que, na psicanálise, o inconsciente em nada distingue-se da consciência.<br />
<br />
"Os motivos do inconsciente que se revelam na sessões de psicanálise [...] são <i>reações verbalizadas</i> do paciente tanto quanto todos os demais motivos da consciência", diferindo destas destas, por assim dizer, não pela espécie de sua existência, mas tão somente pelo seu conteúdo, isto é, <i>ideologicamente</i>" (BAKHTIN, 2014, p. 85).<br />
<br />
A partir daí, Bakhtin começa então a reconhecer, além da consciência "oficial", uma consciência não-oficial, à qual corresponde o inconsciente freudiano. Esses dois tipos de consciência não são essencialmente diferentes entre si. "[...] entre o conteúdo do psiquismo individual e a ideologia enformada não há uma fronteira em termos de princípio", pois "uma vivência individual conscientizada já é ideológica" e, entre ela e a realização cultural mais complexa e bem acabada, há uma corrente contínua de elos de "uma única cadeia de criação ideológica" (BAKHTIN, 2014, p. 87).<br />
<br />
Como pode, porém, o conteúdo mais vago da consciência já ser ideológico? Por meio da palavra, resume Bakhtin. Ocorre que tanto o pensamento quanto o sentimento mais vago só se tornam suficiente claros e, por consequência, existentes para o sujeito quando eles percorrem até o fim o longo e tortuoso caminho que leva do conteúdo do psiquismo individual até o conteúdo da cultura e, mais especificamente, da palavra, essa "refração sutil e confusa das leis socioeconômicas" (BAKHTIN, 2014, p. 88).<br />
<br />
O argumento fica mais claro se considerarmos que a autoconsciência envolve a colocação de si mesmo sob o olhar de um outro representante do seu grupo social, pois "toda motivação do comportamento de um indivíduo [...] é a colocação de si mesmo sob determinada norma social, é [...] a socialização de si mesmo e do seu ato". Eis o modo como então a consciência de si acaba refletindo e especificando "a consciência de classe em todos os seus momentos essenciais, basilares. Aí estão as raízes objetivas até mesmo das reações verbalizadas mais pessoalmente íntimas" (BAKHTIN, 2014, p. 86-87).<br />
<br />
Do discurso interior até os grandes sistemas ideológicos estáveis e enformados das ciências, das artes, da religião, do direito, etc., há um processo incessante de conjugação e cristalização do elemento ideológico instável, "que através das ondas vastas do discurso interior e exterior banham cada ato nosso e cada recepção nossa" (BAKHTIN, 2014, p. 88). Por outro lado, a ideologia enformada, "oficial", exerce uma poderosa influência reversa em todas as nossas enunciações.<br />
<br />
<br />
<h4>
A natureza ideológica e social dos conflitos psíquicos</h4>
<br />
À esse <i>discurso interior </i>e <i>exterior</i> que penetra integralmente o comportamento humano, Bakhtin dá o nome de <b>ideologia do cotidiano</b>. Ela costuma se relacionar de modo aparentemente amigável e cooperativo com a <b>ideologia oficial</b>, "enformada". Eventualmente, porém, pode se dar um conflito entre ambas.<br />
<br />
Para entender como essa luta pode acontecer e atingir o sujeito, é preciso compreender primeiro a natureza e a composição da ideologia do cotidiano.<br />
<br />
Quanto à sua natureza, ela "é mais sensível, compreensiva, nervosa e móvel que a ideologia oficial". Por isso, em seu cerne, acumulam-se aquelas contradições que, após atingirem certo limite, acabam explodindo o esquema ideológico dominante de uma classe.<br />
<br />
Isso não quer dizer que ela seja menos ligada à base econômica e social do que as tais superestruturas ideológicas. Não, de modo algum. Como já vimos, ela faz parte do mesmo plano, da mesmas cadeia de criação cultural que os grandes e sólidos sistemas ideológicos.<br />
<br />
Algumas camadas mais superficiais da ideologia do cotidiano, às quais corresponde a <b>consciência oficial </b>censurada em Freud, exprimem os momentos mais estáveis e dominantes da consciência de classe. Como estão mais próximas da ideologia enformada, elas permitem que o discurso interior transforme-se mais livremente em discurso exterior.<br />
<br />
Outros estratos, porém, que equivalem ao inconsciente em Freud, podem ser agora reconhecidos como <b>consciência não-oficial</b>, Eles estão mais distantes da ideologia dominante e acumulam "motivos internos" que sugerem, de modo precoce, a desintegração, senão de toda uma classe ou sociedade, pelo menos de alguns dos seus grupos. Dessas camadas, dificilmente emerge, a princípio, o discurso interior, pois ele teme se tornar um discurso exterior.<br />
<br />
Em uma comunidade sadia ou em um "indivíduo social-sadio", "a ideologia do cotidiano, fundada na base econômico-social, é integral e forte. Não há nenhuma divergência entre a consciência oficial e a não-oficial" (BAKHTIN, 2014, p. 89).<br />
<br />
Não é isso, todavia, o que ocorre ao paciente da psicanálise. Ele é vítima de um conflito, um conflito que, para Bakhtin, é típico de um certo momento da vida pequeno-burguesa européia, e não de uma luta universal no seio dos seres humanos. "A 'censura' freudiana exprime com muita precisão o ponto de vista da ideologia do cotidiano dessa classe, razão porque surge uma impressão cômica quando os psicanalistas a transferem para o psiquismo de um grego antigo ou de um camponês medieval" (BAKHTIN, 2014, p. 89-90).<br />
<br />
As enunciações desses pacientes não revelam afinal, como queria Freud, "conflitos psíquicos", mas lutas ideológicas. De um lado, a consciência oficial e a ideologia dominante; do outro, a consciência não-oficial, essa camada da ideologia do cotidiano em que se acumulam motivos internos divergentes em relação aos habituais motivos ideológicos que podem ser contrários à existência e ao progresso socioeconômico de um indivíduo e do seu grupo.<br />
<br />
<br />
<h4>
A origem da ideologia revolucionária</h4>
<br />
De um modo geral, os motivos da consciência não-oficial tendem a perecer, uma vez que, devido ao profundo fosso que os separam da consciência oficial, eles não conseguem passar do discurso interior ao discurso exterior para aí então ganharem forma, clareza e força. Obstruídos, esses motivos logo se enfraquecem, perdem suas feições verbais e, assim, desaparecem da realidade humana.<br />
<br />
Ocorre que, eventualmente, alguns desse motivos alternativos ao sistema ideológico dominante podem se exteriorizar de modo cada vez mais forte na medida em que servem de esteio para a existência econômica de todo um grupo social. "É assim que se cria a ideologia revolucionária em todos os campos da cultura", conclui Bakhtin (BAKHTIN, 2014, p. 90).<br />
<br />
<br />
<h4>
O artista contra a cultura</h4>
<br />
Dessa discussão, cabe destacar aqui para a pesquisa que venho discutindo com vocês, as posições que o sujeito e o artista podem ocupar diante da cultura em que vive.<br />
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Ele pode ser um <b>indivíduo social-sadio</b>, para quem não há nenhuma oposição entre consciência oficial e consciência não-oficial.<br />
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No outro extremo, ele pode poder se tornar um <b>desclassificado</b>, ou seja, alguém que acumular motivos ideológicos internos idiossincráticos, para os quais não encontra eco em nenhuma parte do seu grupo social.<br />
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Eventualmente, porém, alguns desses motivos da consciência não-oficial divergente tornam-se sustentáculos para a existência material de um grupo ou comunidade. Neste caso. estamos diante do <b>indivíduo inconformista</b> por assim dizer, que se coloca, junto com seus pares, contra a ideologia oficial de sua classe.<br />
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Chama a atenção no caso dos artistas modernos e contemporâneos que eles tenham sido valorizados pelas classes dominantes justamente por seu inconformismo cultural, ideológico. Aparentemente, tais classes organizaram dentro do seu espaço social um lugar privilegiado onde o discurso interno da consciência não-oficial sofre menos "censura" e pode se converter livremente em discurso externo socialmente aceito e valorizado pela ideologia oficial, "enformada".<br />
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Voltarei ao assunto nos próximos ensaios, abordando inclusive uma característica peculiar do discurso desse indivíduo inconformista em particular, o artista: a sua natureza estética. Notem que, como defende Bakhtin, a ideologia do cotidiano é mais "sensível" e "nervosa" do que a ideologia oficial. Em suas camadas mais clandestinas, estão aquelas vagas percepções que buscam as palavras e os outros signos com que podem se tornar existentes para nossa consciência (reais enfim). É pois nessa dimensão que o artista trabalha, convertendo habilmente, por meio de sua extrema sensibilidade semiótica, estímulos sensíveis em objetos sensoriais significativos. Eis uma hipótese a discutir nas cenas dos próximos capítulos.<br />
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<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXztajndQ1rBzdi_gTzaAANWSpGnhtbBeGgr02eKIXXEP38dNgzKoU_EdGPUCeXB3_LlWIb9fPGtM_D4II14QvPnjLB_RvCi16CYJM19evVnPGPB1_Z3-epCykS-zrVzKUrniTzFyulk6Q/s1600/america+cattalan.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXztajndQ1rBzdi_gTzaAANWSpGnhtbBeGgr02eKIXXEP38dNgzKoU_EdGPUCeXB3_LlWIb9fPGtM_D4II14QvPnjLB_RvCi16CYJM19evVnPGPB1_Z3-epCykS-zrVzKUrniTzFyulk6Q/s400/america+cattalan.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i>America</i> (2016), instalação de Maurizio Cattelan no Guggenheim Museum</td></tr>
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Leia também: <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2016/10/o-mal-estar-da-cultura-e-o-consolo-da.html" target="_blank">O mal-estar da cultura e o consolo da arte</a><br />
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Referência</h4>
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BAKHTIN, Mikhail Mikhaĭlovich. <b>O freudismo: um espaço crítico</b>. Perspectiva, 2014.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6321285203008519781.post-62519333268578654882016-10-08T13:07:00.005-03:002016-10-12T12:20:37.849-03:00O mal-estar da cultura e o consolo da arte<br />
<div style="text-align: right;">
<i>Héber Sales</i></div>
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O conflito entre o sujeito e a cultura ao qual me referi no <i>post</i> sobre <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2016/09/arte-cultura-e-publicidade.html" target="_blank">arte e publicidade na sociedade contemporânea</a> é um tema típico de Freud. Para entender melhor essa luta e como ela acontece no campo da arte, é preciso começar pela definição psicanalítica do <i>Eu</i>.<br />
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<h3>
O Eu na psicanálise</h3>
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Como esclarece J.-D. Nasio, o <i>Eu</i> da psicanálise não equivale à "consciência de si" (p. 74), já que nele, como provam as resistências não intencionais do paciente ao processo da terapia, a parte consciente é reduzida.<br />
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A pessoa que se reconhece como indivíduo sofredor diante do analista não é o <i>Eu</i>, não é o sujeito freudiano ao qual nos referimos aqui (esse sujeito que se angustia diante da realidade exterior): o <i>Eu</i> é "uma instância do aparelho psíquico" (NASIO, 1999, p. 77). Seus principais traços são os seguintes.<br />
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<ol>
<li>Está situado entre dois mundos que lhe são essencialmente estranhos: o mundo interior, o <i>Isso</i>, e o mundo de fora, da realidade exterior. </li>
<li>Funciona como um radar que percebe todas as excitações, sejam elas provenientes de dentro ou de fora. </li>
<li>Também atua integrando e adaptando a vida pulsional interna às exigências da realidade externa. </li>
<li>Ele nasce do mundo interior, desprendendo-se do <i>Isso</i> e se desenvolve por identificações sucessivas com os diversos objetos pulsionais. </li>
<li>Define-se como uma projeção mental da superfície do nosso corpo.</li>
</ol>
Antes de prosseguirmos, algumas palavrinhas sobre o conceito de <i>pulsão</i>.<br />
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Experimentamos continuamente em nosso mundo interno uma série de excitações. Tanto a visão de uma pessoa eufórica, que aparece em nosso mundo externo, como a dor de uma gastrite geram marcas ou imagens internas, situadas no pólo sensitivo do aparelho psíquico.<br />
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Essas marcas são chamadas de representantes das pulsões e, segundo o esquema neurológico do arco reflexo, é da natureza do nosso psiquismo procurar descarregar a excitação provocada por elas. Nisso consiste a vida pulsional interna mencionada acima.<br />
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E o que seriam os tais objetos pulsionais com os quais o <i>Eu</i> se identifica ao longo do seu desenvolvimento? São imagens de uma ação que poderia aliviar a tensão provocada pelos representantes das pulsões.<br />
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Notem, imagens, representantes psíquicos da ação, e não a ação em si, concreta, que permitiria a descarga total da energia gerada, já que nosso psiquismo, ao contrário do sistema nervoso, não pode resolver a excitação por meio de uma resposta motora (um leve tremor diante da picada de uma agulha, por exemplo, no caso do sistema nervoso).<br />
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Esse é um dos motivos, aliás, por que vivemos sob uma tensão constante ou, como diria Freud, em um estado permanente de desprazer. "Na porta de entrada, o afluxo das excitações é constante e excessivo; na saída, há apenas um simulacro de resposta, uma resposta virtual que implica uma descarga parcial" (NASIO, 1999, p. 21).<br />
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Um outro motivo é o chamado <i>recalcamento</i>, uma barreira psíquica que bloqueia a passagem dos representantes inconscientes para o nível do consciente - mais precisamente aquele grupo de representantes mais carregados de energia, que estão próximos do pólo sensitivo e buscam uma descarga rápida sem maiores considerações pelas exigências e restrições da realidade exterior, aos quais se opõem um outro grupo de representantes presentes na consciência e que buscam uma descarga lenta e controlada da tensão, de acordo com as possibilidades e limites que o mundo externo oferece (o primeiro grupo é chamado de <i>Princípio de prazer-desprazer</i> e o segundo, de <i>Princípio da realidade</i>).<br />
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O <i>Eu</i>, como já foi dito acima, é aquela instância do aparelho psíquico que tenta integrar esses dois princípios, procurando adaptar a vida pulsional interna à realidade do mundo exterior.<br />
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<h3>
As instâncias do psiquismo</h3>
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Pois bem, um dos recursos adaptativos do <i>Eu</i> é precisamente o recalcamento, que, como provam as resistências não intencionais do paciente durante a terapia, é um mecanismo inconsciente. Por isso não se pode igualar o <i>Eu</i> à consciência.<br />
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De fato, para Freud, o inconsciente é a base de toda a vida psíquica, uma qualidade presente em cada uma das instâncias do aparelho psíquico: o <i>Eu</i>, o <i>Isso</i> e o <i>Supereu</i>.<br />
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Dentre tais instâncias, o <i>Isso</i> é a mais associada ao inconsciente, apesar de, ao contrário deste, ter a capacidade de perceber no interior de si mesmo as variações da tensão pulsional.<br />
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O <i>Isso</i> caracteriza-se por ser estranho ao <i>Eu</i> - é impessoal e heterogêneo - e, ao mesmo tempo, sua coisa mais íntima. Nele encontram-se tanto as representações inatas, próprias da espécie humana, quanto as representações inconscientes de coisas, muito carregadas da energia. É desse grande reservatório de energia que o <i>Eu</i> e o <i>Supereu</i> se alimentam.<br />
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<h3>
O mal-estar da cultura</h3>
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Chegamos assim àquela parte do psiquismo que nos remete à cultura de modo angustiante: o <i>Supereu</i>, um censor interno que, por delegação das instâncias sociais, exige do <i>Eu</i> conformidade para com as exigências éticas do homem, fazendo emergir o sentimento de culpa que inibe pensamentos e comportamentos reprováveis pela comunidade (FREUD, 2011).<br />
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Ao contrário do que essa primeira definição pode sugerir, não devemos encarar o <i>Supereu</i> como algo totalmente estranho e separado do <i>Eu</i>. Não, ele é uma gradação do <i>Eu</i>, um instrumento de medida que o <i>Eu</i> usa para observar a si mesmo, formado a partir da identificação com a instância parental: a fim de receber amor e afeição, a criança introjeta os valores dos pais e da sociedade.<br />
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Isso quer dizer que o <i>Supereu</i> da criança é constituído pelo <i>Supereu</i> dos pais. A transmissão de valores e tradições é feita então por meio dos <i>Supereus</i> de várias gerações, uma após a outra, tornando essa instância o próprio veículo da cultura.<br />
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A propósito, abramos um parêntese: Freud costumava censurar as concepções materialistas da história por ignorarem essa função do <i>Supereu</i> e colocarem em seu lugar uma teoria que defende a determinação da cultura pelas forças socioeconômicas. Fecha parênteses: retomo esse debate em um outro ensaio, onde discuto as <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2016/10/o-divorcio-do-artista-com-cultura.html" target="_blank">críticas de Bakhtin (2014) ao freudismo</a>.<br />
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O que importa reter agora é que o <i>Eu</i>, em seu esforço para conciliar as demandas do Isso com os limites e condições da realidade exterior, desdobra-se em um <i>Supereu</i> que o ajuda a censurar e regular o fluxo da energia dos representantes de pulsões rumo à sua descarga total, a qual, como já vimos, destruiria o próprio <i>Eu</i>.<br />
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<h3>
O consolo da arte</h3>
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Entre os movimentos de adaptação do <i>Eu</i>, cabe destacar ainda, por sua estreita ligação com a arte, a publicidade e outras realizações culturais, o mecanismo da <i>sublimação</i>.<br />
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Aqui é preciso retroceder um pouco para explicar que, para Freud, o sentido oculto de nossos atos é sempre sexual. Em sua origem, encontram-se representantes pulsionais cujo conteúdo representativo corresponde àquelas regiões muito sensíveis e excitáveis do corpo, as zonas erógenas. Como seu destino, um objetivo ideal e inatingível,:"o prazer perfeito de uma ação perfeita, de uma união perfeita entre os dois sexos, cuja imagem mítica e universal seria o incesto" (NASIO, 1999, p. 46).<br />
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Diante da impossibilidade desse ato, o <i>Eu</i> recalca, se auto-censura por meio do <i>Supereu</i>, fantasia e sublima. O produto final de todo esse esforço são os atos cotidianos e visíveis das pessoas, reconhecidos pela psicanálise como atos substitutivos do irreal ato incestuoso.<br />
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A <i>sublimação</i>, em particular, desvia o trajeto da pulsão sexual, mudando o seu alvo: o objeto sexual visado inicialmente é substituído por outro, de valor social. É nesse sentido que a Freud propôs que as produções artísticas e culturais são "expressões sociais das pulsões sexuais desviadas de seu objetivo virtual" (NASIO, 1999, p. 55).<br />
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Qual seria, no entanto, a natureza específica dessa forma de sublimação, a arte? Uma pista para responder à questão está em uma característica muito peculiar do <i>Supereu</i>: o pensamento dualista (vida ou morte, bem ou mal, indivíduo ou sociedade, sem meio termo).<br />
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Ora, como discuti em um <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2016/09/arte-cultura-e-publicidade.html" target="_blank">ensaio anterior</a>, é precisamente contra essa forma de ver as coisas que a arte se insurge. Por isso, podemos entendê-la também como uma manobra do <i>Eu</i> para burlar a censura e os reducionismos do <i>Supereu</i> e se religar ao <i>Isso</i>, essa força desconhecida que, como sugeriu Groddeck (2001), é o grande mistério do mundo: uma força indivisível, atemporal e heterogênea que dirige o que fazemos e o que nos advém.<br />
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<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimrPlmQYDwUa13Rzv40hobmqCsYwd5JRo2LGblLK-GBhDX76v-C6r-njeLUQlSpr2-zhiThMgimRacZd814jAUBJCltP7-4FvXxTXM66bMAuN7x6CUiYQ_9RWUxEs8Eiw-bDdtSbrreREe/s1600/on-the-threshold-of-liberty.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="313" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimrPlmQYDwUa13Rzv40hobmqCsYwd5JRo2LGblLK-GBhDX76v-C6r-njeLUQlSpr2-zhiThMgimRacZd814jAUBJCltP7-4FvXxTXM66bMAuN7x6CUiYQ_9RWUxEs8Eiw-bDdtSbrreREe/s400/on-the-threshold-of-liberty.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i>No limiar da liberdade</i> (1930), René Magritte</td></tr>
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Leia também: <a href="http://brandinghipercultural.blogspot.com.br/2016/10/o-divorcio-do-artista-com-cultura.html" target="_blank">O divórcio do artista com a cultura</a><br />
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Referências</h3>
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BAKHTIN, Mikhail Mikhaĭlovich. <b>O freudismo: um espaço crítico</b>. Perspectiva, 2014.<br />
<br />
FREUD, Sigmund. <b>O mal-estar na civilização</b>. Editora Companhia das Letras, 2011.<br />
<br />
GRODDECK, Georg. <b>Escritos psicanalíticos sobre literatura e arte</b>. Perspectiva, 2001.<br />
<br />
NASIO, J.-D. <b>O prazer de ler Freud</b>. Zahar, 1999.Unknownnoreply@blogger.com0