O que é um meme
Em sua formulação original, o meme é definido como uma unidade cultural de natureza análoga à do gene. Hoje em dia também usamos o termo para identificar conteúdos e significados que são transmitidos de uma pessoa a outra até contaminar todo um corpo social. Veremos alguns exemplos ao longo deste post.O meme como resistência
Na campanha presidencial norte-americana, nenhum marketeiro político conseguiu fabricar um meme intencionalmente. Para Jungerson, a explicação para isso é simples: os eleitores usam os memes para criticar e resistir ao discurso arrumadinho e pouco autêntico dos candidatos. Sua matéria-prima são as contradições e gafes presentes nas mensagens oficiais.A foto abaixo, o maior ato falho da história dos EUA segundo o Kulture Kritic, é um bom exemplo do fenômeno. Até este momento, a imagem já foi compartilhada mais de 100.000 vezes por usuários do Facebook.
Família Romney comete ato falho e vira meme na internet. |
O grande engajamento dos eleitores nessas brincadeiras e trolagens pode ser visto como uma crítica ao marketing de cima-para-baixo, processo de comunicação em que poucos de nós, receptores, temos alguma influência significativa.
Identificar um ato falho ou compartilhá-lo é para o cidadão uma forma de protestar contra campanhas que pretendem seduzi-lo com mensagens fabricadas demais, que ignoram o lado sujo, manipulador ou ridículo da política e fazem pouco caso do poder de escolha dos indivíduos.
Não é difícil imaginar a lição para outros tipos de marca: as mídias sociais podem se tornar poderosos espaços de resistência caso se ignore a opinião dos indivíduos e o seu desejo de terem voz ativa no processo. Elas são o espaço onde acontece o choque entre o marketing de cima-para-baixo e a comunicação de baixo-para-cima.
O meme como expressão de identidade
O meme pode ser visto como um ato de rejeição ao consumo passivo de campanhas e notícias massificadas. Ele não apenas promove uma contra-leitura das histórias oficiais como também, graças à sua espontaneidade, proporcionam uma experiência de autenticidade.O ritual propõe um outro modelo de sociedade, no qual possa haver mais agência, mais personalização, mais escolha individual. Nesse sentido, os memes falam mais das pessoas que o compartilham do que de qualquer outra coisa: eles são declarações sobre nós mesmos, servem ao propósito de construir e manter as nossas próprias identidades.
O meme e o culto ao amador
O status de "coisa genuína" do meme é afirmado também pela estética do amador, um detalhe que escapou a Jungerson em seu artigo.Curtir, comentar e compartilhar uma imagem ou desenho tosco e engraçado, produzido por gente como e a gente, é mais uma forma de contestar uma indústria cultural que ignora a criatividade dos receptores e dá pouco espaço para a afirmação pessoal de sua identidade.
O estilo é bem conhecido dos usuários do Facebook que espalham conteúdo criativo como o Não sou touchscreen. É uma boa piada, mas a sua graça tem muito a ver com o fato de que a peça poderia ter sido feito por uma pessoa qualquer.
"Não sou touchscreen" exemplifica a linguagem meme. |
A estética do amador no branding
Algumas empresas veem nesse movimento uma oportunidade e se juntam a ele na expectativa de ampliar o alcance viral do seu conteúdo. A estratégia funciona também para comunicar que as marcas são "gente como a gente" e, com isso, ganhar a simpatia do público.Esta peça do Sadia Hot Pocket, veiculada no Facebook, dificilmente seria publicada na mídia impressa, meio em que a linguagem estética (ainda?) é mais refinada e procura sinalizar um "trabalho de profissional", abordagem bastante coerente com imagem de alta performance que as marcas da era industrial cultivam.
Peça sobre o Sadia Hot Pocket usa linguagem meme. |
Outro caso típico é o da imagem criada para divulgar o Amigo Secreto Solidário do Salvador Shopping. O estilo elegante da marca está presente na execução da peça, o que afirma um atributo fundamental de sua identidade, mas o discurso segue o padrão meme discutido acima.
Amigo Secreto Solidário do Salvador Shopping usa linguagem meme. |
Na linha da marca que é "gente como a gente", o Spoleto talvez tenha sido o anunciante mais ousado até momento: produziu uma série de vídeos derivados de uma história que satirizava o seu serviço por ser exageradamente fast.
A estratégia está colocando o Spoleto em sintonia com o movimento meme e com o espírito do nosso tempo, tão contrário a tudo que parece suspeitamente certinho e perfeito demais. Por saber rir de si mesma e adotar o ponto de vista do consumidor de forma criativa, a marca tem se dado muito bem - os seus vídeos são um sucesso de audiência na web. Boa lição de branding para as empresas (e para os políticos também).
Leia ainda: A orkutização da cultura e do branding.
Nenhum comentário:
Postar um comentário