28.10.12

A arte de viver em rede

A comunidade nos precede. Para fazer parte dela, precisamos acatar as suas regras de funcionamento e, uma vez aceitos como membros, deixá-la pode custar muito caro.

Na rede, a vida parece mais fácil. Deletar um amigo virtual não é tão traumático e constrangedor quanto se livrar de uma amizade no mundo real.

Daí Zygmunt Bauman dizer que "o maior atrativo do Facebook é a facilidade para se desconectar [das pessoas]" (veja entrevista ao final deste post).

Para ele, a rede, ao contrário da comunidade, sucede ao indivíduo: ela nasce da nossa escolha de nos conectarmos ou não a determinados usuários de uma plataforma social.

A facilidade para se desconectar tem um custo porém. Segundo Bauman, vivemos hoje uma sociabilidade que proporciona muita liberdade mas pouca segurança.

Nos últimos cem anos, teríamos ido de um extremo a outro, já que, até o começo do século XX, fazer parte de uma comunidade significava para os indivíduos abrir mão de muito desejos pessoais para se enquadrar em uma ordem grupal que dava bastante segurança mas pouca liberdade aos seus membros.

A condição pós-moderna, tão favorável às ambições individuais, é, no entanto, de uma insegurança ontológica insustentável, argumenta Anthony Giddens no livro Modernity and Self Identity.

Bauman está de acordo. Para ele, a liberdade está nos cobrando um preço alto demais e alguns de nós já estamos dispostos a abrir mão de uma parte dela em troca de mais segurança - movimento que só tenderia a aumentar nos próximos anos.

Qual seria o ponto de equilíbrio? Cada um vai ter que encontrar o seu, responde o sociólogo polonês. Eis a arte de viver em rede.

Leia também: O paradoxo da privacidade on-line.



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