Consideremos uma obra comentada por ele hoje na Folha: a exposição de casais nus em pelo nas salas do MoMA, de Nova York. Para Gullar, é um exemplo de como a arte conceitual teria deixado de ser arte, porque, para sê-lo, deveria maravilhar.
Nem me aprofundarei num fato elementar: uma obra de arte precisa ser unanimemente maravilhosa? O que seria das vanguardas de todas as épocas se fosse este o caso? Seriam acusadas, como o foram por alguns, de não ser arte.
Mas vamos adiante, porque se o mundo é inventado e o papel da arte é reinventá-lo, como vive afirmando o poeta, não estaria a tal exposição de casais nus tratando exatamente disso? Colocá-los nas salas do MoMA não seria um modo de questionar e reinventar o espaço do museu e a própria arte?
A este respeito, concordo com o filósofo e poeta Antonio Cicero: qualquer objeto pode ser considerado arte se for retirado do seu contexto utilitário ou cognitivo e apresentado à apreciação estética. Segundo ele, uma obra de arte vale por si quando:
"mesmo sem nenhuma finalidade biológica, prática ou cognitiva, ela mobiliza, vitaliza e faz interagirem no mais alto grau as nossas faculdades, as nossas capacidades, os nossos recursos. Quando ela nos atrai e nos faz pensar nela com vários dos recursos de que dispomos: inteligência, razão, cultura, sensibilidade, sensualidade, emoção, senso de humor etc. Está justamente na provocação e na mobilização dos nossos recursos o valor dela."A citação faz parte de uma longa entrevista que Antonio Cicero e eu realizamos para o portal Cronópios. Conversamos justamente sobre o fim das vanguardas e a definição do que é arte a partir de uma situação específica: a liberdade e o juízo de valor na poesia. Vale a pena ler, é um bom contraponto ao pensamento conservador do Ferreira Gullar.
Leia também: Arte e manhas do branding.
Nenhum comentário:
Postar um comentário