Ora, se: (1) assumirmos esse conceito de verdade como correto e (2) considerarmos que não temos outros meios de acesso à realidade das coisas a não ser através da percepção consciente, como poderemos verificar se as coisas de fato são como imaginamos que sejam? Como saber se nossos mapas mentais correspondem à realidade? Como saber se sabemos a verdade?
A realidade é tudo aquilo que pode nos contrariar?
Apesar dessa dificuldade (impossibilidade como diriam os céticos?), há ocasiões em que as coisas não se comportam como esperávamos - nossos pontos de vistas e conceitos das coisas parecem não dar o resultado que esperávamos. Costumamos dizer então que estávamos errados a respeito das coisas e imediatamente reformulamos nossas teorias sobre elas.Será que estamos então mais próximos da verdade? Será que agora "vemos" melhor a realidade? Como argumentei acima, parece impossível saber disso se adotarmos os conceitos de verdade e de realidade apresentados no primeiro parágrafo (questiono-os aqui). Por outro lado, talvez pudéssemos estar justificados em nossa reivindicação caso apelássemos para uma outra definição de realidade: realidade é tudo aquilo que pode nos contrariar.
Essa noção nos conduz diretamente à idéia de que é possível ter certeza de que estamos definitivamente errados sobre algo, mas nunca de que estamos definitivamente certos (eis a posição de Karl Popper, ao propor a falsificação como procedimento mais adequado lidar com problema da indução).
Duas notas sobre o conhecimento
- A verdade passou a ser uma das condições para o conhecimento desde que Platão definiu conhecimento como crença verdadeira justificada - definição esta muito disputada hoje em dia, mas isso já é papo para outra hora.
- Para Nietzsche, a verdade é "apenas uma expressão para designar a utilidade, para designar aquela função do juízo que conserva a vida e serve à vontade do poder" (citado por Hessen em "Teoria do Conhecimento"). Nesse sentido, o nosso conhecimento dos objetos progride na medida em que eles resistem às nossas intenções. Considero tal resistência uma medida da nossa ignorância (ou da inadequação de nossos mapas ou representações mentais), além de ser também uma manifestação da aleatoriedade e da incerteza.
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