Milan Kundera escreveu um livrinho fantástico chamado A Arte do Romance. O tema, que a princípio parece interessar apenas a ficcionistas e estudiosos da literatura, serve, no fundo, de oportunidade para observações afiadas sobre a natureza humana.
Algumas tem tudo a ver com a nossa vida nas mídias sociais. Vejam, por exemplo, esta passagem, cujo ponto de partida é uma afirmação bem geral sobre o nosso conhecimento das coisas: "o homem deseja um mundo onde o bem e o mal sejam nitidamente discerníveis, pois existe nele a vontade inata e indomável de julgar antes de compreender" (p. 14).
A missão do romance, segundo Kundera, consiste exatamente em evitar essa simplificação da realidade pelo indivíduo, conscientizando-o de que "as coisas são mais complicadas [e relativas] do que [ele] pensa" (p. 24).
O escritor conclui com uma frase que deveria servir de alerta aos apressadinhos das redes sociais: "essa é a eterna verdade do romance [a verdade da complexidade], que, entretanto, é ouvida cada vez menos no alarido das respostas simples e rápidas que precedem a questão e a excluem" (p. 24).
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