6.6.18

As eleições do Whatsapp

Héber Sales


Quando muitos esperavam ver, graças à liberação de anúncios dos candidatos na rede, as eleições do Facebook, eis que descobrimos que a principal arena de luta política no Brasil pode ser outra: o Whatsapp.

A greve dos caminhoneiros, organizada de forma horizontal e viral por meio desse aplicativo, parece ser aquele turning point que faltava.

Enquanto o Congresso Nacional discute leis para barrar a onda de fake news no Facebook, fenômeno que ganhou destaque a partir da campanha de Donald Trump nos EUA, os brasileiros se informam cada vez mais por meio do mensageiro instantâneo.

Nele, é mais difícil detectar a origem de uma fake news.  Isso porque as mensagens que fluem de um ponto a outro são criptografadas e muitos utilizam um número de telefone pré-pago.

O movimento dos caminhoneiros parece ser mais uma evidência de um processo mais amplo de desinstitucionalização e de crise da representação em nossa sociedade (e não apenas nela).

Alheios aos sindicatos, associações e partidos, a categoria se organizou como uma pirâmide de grupos no Whatsapp. Entre eles, fluía livremente demandas de vários níveis, com a voz local ganhando relevância tanto em termos de pauta quanto de liderança.

O Governo Federal ignorou a nova ordem de coisas e se deu mal ao anunciar precocemente o fim de uma greve que continuou por alguns dias mais. Em São Paulo, o governador, assistido por alguns assessores mais antenados, reconheceu a força do Whatsapp e usou um grupo para reunir representantes da citada pirâmide, conseguindo deste modo uma interlocução mais produtiva e consequente.

Fica aí a lição para partidos, políticos e empresas também. Assim como os cidadãos, os consumidores organizam-se nesse novo meio.

Entre os mais jovens, conforme já discuti, o Facebook perde a relevância como fonte de informação. O Instagram, mídia social em que agora consomem mais conteúdo, é por onde se informam cada vez mais sobre produtos e serviços.

Um estudo da Pública, agência de jornalismo investigativo, informa que os jovens estão se afastando de páginas engajadas e interagindo mais com a imprensa tradicional, que usa uma linguagem mais neutra.

No processo, muitos deles, assim como o público mais adulto, usam o Whatsapp para compartilhar notícias e checar informações. E o cidadão está ficando escolado nisso, aprendendo a lidar com as fake news.

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