Héber Sales
O problema das leis que vêm aí contra as
fake news é definir o que é uma
fake news.
Muitos políticos e governantes, quando se sentem acuados por certas notícias hoje em dia, taxam-nas logo de
fake news.
Donald Trump, nos EUA, tem essa mania. Várias vezes, quando a imprensa revela dados que sugerem seu envolvimento com práticas fraudulentas, ele simplesmente responde: é
fake news.
O desejo de censurar não é privilégio da direita, lembremo-nos. O governo petista, em vários momentos, pensou em regular mais duramente a mídia e, nos países comunistas de ontem e de hoje, nem a imprensa nem os cidadãos têm direito à livre manifestação.
Por aqui, durante o movimento dos caminhoneiros, Temer e seus assessores fizeram pouco caso de notícias que circulavam no Whatsapp sobre a mobilização da categoria.
Da primeira vez, há alguns dias, erraram. A greve continuou, apesar de terem anunciado seu fim após reunião com representantes dos caminhoneiros que pouco representavam (o movimento se organizava horizontalmente por meio do Whatsapp, como um vírus, sem comando central).
Nos últimos dias, monitoraram a rede mais de perto. Vacilantes, afirmavam ontem que provavelmente não haveria paralisação nesta segunda.
Nos grupos dos quais participo, a troca de informações foi intensa. Havia um esforço coletivo para checar o boato. Depois de conversar com um e com outro, quase ninguém acreditava que haveria uma nova greve.
O cidadão esta ficando escolada em fake news e parece muitas vezes mais esperto do que as autoridades na hora de lidar com elas.
De fato, as buscas por "o que é
fake news" explodiram no Google desde outubro/2017, o que sugere que o melhor antídoto contra as
fake news pode ser simplesmente mais
news, e não mais governo.
Dia 19/06, na UFU, vou falar um pouco mais sobre esse assunto durante o
XI Workshop GELS. Na minha conferência, abordarei "O signo ideológico na era das mídias sociais: fake news, pós-verdade e plurilinguismo".
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