Leio no blog Prosa, de O Globo, sobre os dons literários do What would I say, aplicativo que gera frases aleatórias a partir dos textos publicados pelo usuário em seu perfil no Facebook.
Alguns se encantam e exaltam a criatividade do bot, pelas suas associações surpreendentes. São citadas preciosidades do tipo "ó, menina, melhor que a Sra. das folhas, a densa mistura de mel e memórias de lugar?"
Coisas assim poderiam renovar de modo inédito a própria língua, especula um erudito, enquanto um poeta vacila diante do robô, achando-se menos criativo do que a máquina.
Não me empolgo nem titubeio. Quero ver esse aplicativo produzir, de caso pensado, a beleza de Uma faca só lâmina ou um daqueles prosoemas do Guimarães Rosa. Nem por sorte - quantos lances de dados seriam necessários?
Além do que, a realização de um autor literário não está apenas no produto de sua arte - um texto cheio de imaginação e poesia -, mas no próprio exercício de escrever com a mente solta, em uma experiência de liberação e despertamento pessoal.
Leia também: As mídias sociais e a arte do romance.
15.12.13
30.11.13
Umberto Eco e a propaganda
Propaganda não é arte, é artesanato.
Washington Olivetto
Por mais criativos que sejamos em publicidade e branding, dificilmente atingiremos o status de verdadeiros artistas. No caso da redação publicitária propriamente dita, Umberto Eco, em suas Confissões de um Jovem Romancista, meteu o dedo na ferida ao indicar o que coloca a literatura à parte de outras escritas criativas:
"[...] num poema ou num romance, a intenção é representar a vida em toda a sua incoerência. A intenção é por em cena uma série de contradições, tornando-as claras e pungentes. [Os autores] pedem a seus leitores que arrisquem uma solução; não oferecem uma fórmula definida (exceto os escritores kitsch ou sentimentais, que almejam oferecer consolações baratas)".
Nada a ver portanto com a abordagem padrão da propaganda, centrada no discurso deliberativo, que prima pela circularidade e pelo fechamento, e vive obcecada pela aproximação entre os valores do consumidor e os valores da marca ou do produto.
O texto publicitário raramente admite o contraditório. Ao conflito, muitas vezes sugerido no título para despertar a curiosidade e o interesse, segue-se uma fieira de fatos e provas que enaltecem de forma mais ou menos explícita a satisfação proporcionada pelo produto ou pelo estilo de vida associado à marca. No final da conversa, um epílogo conclui o raciocínio, recapitula o argumento e incentiva o engajamento com a marca do anunciante. Satisfação garantida.
A estratégia consiste quase sempre em seduzir o consumidor por meio da emulação: a marca apresenta-se como alguém que compartilha os mesmos valores do indivíduo, um semelhante seu, que, por isso, merece a sua afeição. A respeito disso, Celso Figueiredo foi claríssimo em seu livro sobre redação publicitária:
"A publicidade raramente convence alguém de algo. Ela persuade alguém a algo. [...] Para convencer, é necessário fazer alguém mudar de opinião, vencer os conceitos existentes na mente do consumidor [...]; já persuadir tem mais a ver com concordar com algo que o consumidor já pensa e, por meio dessa concordância, trazê-lo para o produto que se quer anunciar".
Na literatura, não há persuasão nesse sentido; a sedução não ocorre por meio da concordância e da emulação; ela é estética, obtida pelas manhas do estilo e da engenhosidade do autor, e não por uma mensagem cujo conteúdo conforta e adula as pessoas. Pelo contrário, o romancista e o poeta estão sempre muito ocupados em nos tirar da zona de conforto mental, nos livrar de clichês existenciais e renovar o nosso modo de olhar o mundo.
Leia também: O que é arte afinal?
9.11.13
A semiótica do perseguidor
Héber Sales
Esse conto soberbo de Julio Cortázar é também uma pequena tragédia semiótica. Johnny Parker, saxofonista genial e O Perseguidor, luta desesperadamente para se livrar da armadilha das palavras e das categorias. É o que acontece quando ele, certa noite, se olha num espelhinho (os grifos são meus):
E a baba não gruda apenas em Johnny, não se espalha somente sobre as pessoas. Ela também cola nas coisas e acontecimentos, tapando os seus furos e saliências desconcertantes, tornando o mundo muito mais harmonioso e previsível do que ele de fato é.
A arte, a verdadeira arte, é a perseguidora dessa ilusão, é a "lebre que corre atrás de um tigre que dorme", e não "o que Satchmo toca, tão limpo, tão puro".
Leia também: A semiótica do vazio.
Esse conto soberbo de Julio Cortázar é também uma pequena tragédia semiótica. Johnny Parker, saxofonista genial e O Perseguidor, luta desesperadamente para se livrar da armadilha das palavras e das categorias. É o que acontece quando ele, certa noite, se olha num espelhinho (os grifos são meus):
"Na verdade esse cara não sou eu, no primeiro momento senti claramente que não era eu. Agarrei-o de surpresa, de banda, e soube que não era eu. Eu sentia isso, e quando a gente sente alguma coisa... Mas é como em Palm Beach, em cima de uma onda despenca em você a segunda, e depois outra... Você não acabou de sentir e já vem outra, vêm as palavras... Não, não são as palavras, é o que está nas palavras, essa espécie de cola-tudo, essa baba. E a baba vem e cobre você, e o convence que o do espelho é você. Claro, mas como entender? Mas se sou eu, com meu cabelo, com esta cicatriz. E as pessoas não entendem que a única coisa que aceitam é a baba, e por isso acham tão fácil se olhar no espelho."Johnny se refere à sua identidade social, colada nele por seu público, pelos críticos, por Bruno, seu biógrafo e narrador do conto: o protagonista é afro-americano, jazz man, músico revolucionário, renovador do gênero, blá, blá: baba.
E a baba não gruda apenas em Johnny, não se espalha somente sobre as pessoas. Ela também cola nas coisas e acontecimentos, tapando os seus furos e saliências desconcertantes, tornando o mundo muito mais harmonioso e previsível do que ele de fato é.
A arte, a verdadeira arte, é a perseguidora dessa ilusão, é a "lebre que corre atrás de um tigre que dorme", e não "o que Satchmo toca, tão limpo, tão puro".
"Você não acha que o que Satchmo toca é como um aniversário ou uma boa ação? Nós... Olha, eu digo que quis nadar sem água. Achei que... mas tem de ser idiota... achei que um dia encontraria outra coisa. Não estava satisfeito, pensava que as coisas boas, o vestido vermelho de Lan, e até Bee, eram como ratoeiras, não sei me explicar de outro jeito... armadilhas para que a gente se conforme, você sabe, para que a gente diga que está tudo certo. Bruno, eu acho que Lan e o jazz, até o jazz, eram como anúncios de revista, coisa bonitas para que eu ficasse de acordo como você fica porque você tem Paris e sua mulher e seu trabalho... Eu tinha o meu sax..."Johnny não se conforma, tenta se libertar da baba por meio da sua música, da maconha, do álcool, e de pequenas epifanias cotidianas. A mais impressionante e perturbadora delas acontece no metrô, que para ele "é como estar metido num relógio" ("As estações são os minutos, você entende?").
"Comecei a pensar na minha velha, depois em Lan e nos meninos, e claro, naquele momento eu sentia que estava caminhando pelo meu bairro, e via as caras dos rapazes, os daquele tempo. Não era pensar, acho que já disse a você que não penso nunca; estou assim parado numa esquina vendo passar o que penso, mas não penso no que vejo. Entende?"Johnny está ali, metido num vagão, em estado de fluxo, lembrando velozmente de tantas coisas que, para enumerá-las, precisaria de "uns bons quinze minutos". Mas todas essas memórias lhe ocorrem em um minuto e meio, o tempo do trajeto entre uma estação e outra.
"Então, como pode ser que eu tenha pensado durante quinze minutos, hein, Bruno? Como se pode passar um quarto de hora em um minuto e meio? [...] Bruno, se eu pudesse viver apenas como nesses momentos, ou como quando estou tocando e também o tempo muda... Você percebe o que poderia acontecer num minuto e meio... Então um homem, e não só eu mas também essa aí e você e todos os rapazes, poderiam viver centenas de anos, se a gente encontrasse a maneira poderíamos viver mil vezes mais do que estamos vivendo por culpa dos relógios, por causa dessa mania de minutos e de depois de amanhã..."Bruno, o narrador, sorri da melhor maneira que pode, compreende vagamente que Johnny tem razão. "Mas o que ele suspeita e o que eu pressinto de sua suspeita vai se apagar como sempre assim que eu estiver na rua e entrar na minha vida de todos os dias", assim que estiver de volta à baba.
Leia também: A semiótica do vazio.
30.9.13
A função poética na publicidade e no branding
Não há muita novidade nisso. A publicidade e o branding há muito tempo pedem ajuda à função poética.
Não estou falando de ajuda sentimental. A função poética não é emotiva, mas formal. Como sugeriu Roman Jakobson, seu negócio é surpreender as pessoas por meio da organização inesperada da matéria significante - é trabalho estético.
Transgride-se códigos e sub-códigos de modo a perturbar o automatismo da percepção e sugerir novos olhares: inusitados, curiosos, estimulantes.
A manobra pode ser aplicada a uma ideia qualquer. Por exemplo, uma frase tão manjada ou coloquial quanto "saia de bicicleta".
Coloque-a num outro contexto, faça uma associação com moda, tendência, com shopping elegante e sustentável. Depois mexa na forma da expressão: quebre a linearidade da oração, destaque a palavra "saia", brinque com seu duplo sentido, assim:
Pronto, você capturou o olhar inquieto do internauta e excitou a imaginação do leitor com uma peraltagem semiótica. O sorriso cúmplice no rosto do fã informa: o engajamento está garantido.
Não estou falando de ajuda sentimental. A função poética não é emotiva, mas formal. Como sugeriu Roman Jakobson, seu negócio é surpreender as pessoas por meio da organização inesperada da matéria significante - é trabalho estético.
Transgride-se códigos e sub-códigos de modo a perturbar o automatismo da percepção e sugerir novos olhares: inusitados, curiosos, estimulantes.
A manobra pode ser aplicada a uma ideia qualquer. Por exemplo, uma frase tão manjada ou coloquial quanto "saia de bicicleta".
Coloque-a num outro contexto, faça uma associação com moda, tendência, com shopping elegante e sustentável. Depois mexa na forma da expressão: quebre a linearidade da oração, destaque a palavra "saia", brinque com seu duplo sentido, assim:
Criação da agência Nuve para fan page do Salvador Shopping |
Pronto, você capturou o olhar inquieto do internauta e excitou a imaginação do leitor com uma peraltagem semiótica. O sorriso cúmplice no rosto do fã informa: o engajamento está garantido.
1.9.13
A semiótica do vazio
O vazio budista não poderia ser melhor explicado. Ugo Volli escreve como um mestre zen em seu Manual de Semiótica:
"Os objetos reais não significam nada, ao menos até que sejam percebidos como coisas autônomas por uma sociedade, tornando-se assim unidades culturais que podem ser nomeadas".Ou, como explica a Neo, no filme Matrix, o menino paranormal: "não é a colher que entorta, é a sua mente".
30.8.13
Neuromarketing vs. Antropologia: a disputa pelas emoções
Héber Sales
Assim como o neuromarketing, a antropologia reconhece que grande parte das motivações de compra são subconscientes. Ela possui no entanto um foco bem determinado: busca entender como um certo tipo de conhecimento tácito - a cultura - molda as escolhas dos consumidores e, ao mesmo tempo, é moldado por elas.
O próprio neuromarketing concorda com a natureza subconsciente da cultura. Para Martin Lindstrom, talvez o mais apaixonado dos seus defensores, a mente irracional, muito forte nas decisões de compra, "está inundada por questões culturais arraigados em nossa tradição, criação [...]" (p. 25).
Entre esses dois campos há porém uma clara diferença de propósitos: enquanto o neuromarketing tenta enxergar como as diferentes partes do cérebro reagem às tais "questões culturais", a antropologia tenta identificar por meio da etnografia quais são essas questões.
A esse respeito, aliás, o livro de Lindstrom, intitulado A Lógica do Consumo, apresenta uma pesquisa exemplar, que ilustra muito bem o desencontro entre as duas abordagens.
Eleitores estadunidenses foram expostos a vídeos dos ataques terroristas de 11 de setembro ao World Trade Center enquanto seus cérebros eram varridos por aparelhos de ressonância magnética funcional. O resultado dos testes revelaram um aumento considerável da atividade na amígdalas cerebelares, uma pequena estrutura neurológica que governa, entre outras coisas, o medo e a ansiedade.
Com base nessa descoberta, Lindstrom conclui em seu livro que o placar da eleição presidencial de 2004 foi definido pelas emoções e não por escolhas racionais - a propaganda eleitoral de George W. Bush apelou para o medo dos eleitores e levou a melhor.
Curiosamente, os cientistas encarregados dessa pesquisa descobriram também que "republicanos e democratas reagiam de maneira diferente" às imagens do atentado: as amígdalas dos democratas se acendiam de modo muito mais intenso (p. 35).
Seria esta uma evidência de que a ideologia molda as nossas respostas emocionais? Lindstrom ignora a pergunta e perde uma boa oportunidade para aprofundar seu entendimento sobre a influência da cultura nas emoções.
Talvez lhe faltasse uma boa referência para situá-lo melhor nessa encruzilhada. Quem sabe este parágrafo do ensaio Transição para a Humanidade, do antropólogo Clifford Geertz, lhe orientasse melhor:
Para entender isto, basta lembrar que, se os eleitores fossem em sua maioria muçulmanos radicais, não faria nenhum sentido usar as imagens do 11 de setembro para lhes causar medo.
Nesta situação, caso os publicitários fossem estrangeiros ou mesmo muçulmanos liberais, seria indispensável para eles ter em mãos uma boa etnografia, que lhes informasse quais signos representam o medo dentro do sistema de símbolos da comunidade-alvo.
Leia também: Para que serve a etnografia no marketing
Referências:
GEERTZ, Clifford. in O Papel da Cultura nas Ciências Sociais. Porto Alegre: Editorial Villa Martha, 1980.
LINDSTROM, Martin. A Lógica do Consumo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
Assim como o neuromarketing, a antropologia reconhece que grande parte das motivações de compra são subconscientes. Ela possui no entanto um foco bem determinado: busca entender como um certo tipo de conhecimento tácito - a cultura - molda as escolhas dos consumidores e, ao mesmo tempo, é moldado por elas.
O próprio neuromarketing concorda com a natureza subconsciente da cultura. Para Martin Lindstrom, talvez o mais apaixonado dos seus defensores, a mente irracional, muito forte nas decisões de compra, "está inundada por questões culturais arraigados em nossa tradição, criação [...]" (p. 25).
Entre esses dois campos há porém uma clara diferença de propósitos: enquanto o neuromarketing tenta enxergar como as diferentes partes do cérebro reagem às tais "questões culturais", a antropologia tenta identificar por meio da etnografia quais são essas questões.
A esse respeito, aliás, o livro de Lindstrom, intitulado A Lógica do Consumo, apresenta uma pesquisa exemplar, que ilustra muito bem o desencontro entre as duas abordagens.
Eleitores estadunidenses foram expostos a vídeos dos ataques terroristas de 11 de setembro ao World Trade Center enquanto seus cérebros eram varridos por aparelhos de ressonância magnética funcional. O resultado dos testes revelaram um aumento considerável da atividade na amígdalas cerebelares, uma pequena estrutura neurológica que governa, entre outras coisas, o medo e a ansiedade.
Com base nessa descoberta, Lindstrom conclui em seu livro que o placar da eleição presidencial de 2004 foi definido pelas emoções e não por escolhas racionais - a propaganda eleitoral de George W. Bush apelou para o medo dos eleitores e levou a melhor.
Curiosamente, os cientistas encarregados dessa pesquisa descobriram também que "republicanos e democratas reagiam de maneira diferente" às imagens do atentado: as amígdalas dos democratas se acendiam de modo muito mais intenso (p. 35).
Seria esta uma evidência de que a ideologia molda as nossas respostas emocionais? Lindstrom ignora a pergunta e perde uma boa oportunidade para aprofundar seu entendimento sobre a influência da cultura nas emoções.
Talvez lhe faltasse uma boa referência para situá-lo melhor nessa encruzilhada. Quem sabe este parágrafo do ensaio Transição para a Humanidade, do antropólogo Clifford Geertz, lhe orientasse melhor:
"Sem o guia das imagens exteriorizadas, dos sentimentos falados no ritual, nos mitos e na arte, não saberíamos, de fato, como sentir. Tal como o próprio cérebro anterior desenvolvido, as idéias e as emoções são artefatos culturais do homem" (p. 6).O uso do medo na propaganda de George W. Bush dá mais no que pensar do que supõe Lindstrom. Embora o autor indique que o rastreamento das amígdalas cerebelares dos pesquisados foi determinante para a exploração do medo nos anúncios do candidato republicano, a escolha de tal estratégia foi influenciada também por considerações culturais.
Para entender isto, basta lembrar que, se os eleitores fossem em sua maioria muçulmanos radicais, não faria nenhum sentido usar as imagens do 11 de setembro para lhes causar medo.
Nesta situação, caso os publicitários fossem estrangeiros ou mesmo muçulmanos liberais, seria indispensável para eles ter em mãos uma boa etnografia, que lhes informasse quais signos representam o medo dentro do sistema de símbolos da comunidade-alvo.
Leia também: Para que serve a etnografia no marketing
Referências:
GEERTZ, Clifford. in O Papel da Cultura nas Ciências Sociais. Porto Alegre: Editorial Villa Martha, 1980.
LINDSTROM, Martin. A Lógica do Consumo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
23.8.13
Incerteza e criatividade na pesquisa de marketing
Questiono fortemente a pesquisa de marketing que não leva em conta a natureza simbólica do consumo, a incorrigível aleatoriedade dos fatos e o papel da criatividade na construção do conhecimento.
Muito do que sabemos é provisório e artificial: usamos a nossa imaginação e os nossos esquemas classificatórios para impor à realidade uma ordem e uma certeza inexistentes, as quais podem, no entanto, ser úteis para nos movermos no mundo com mais segurança, coragem e ânimo.
Em nossa cultura, as marcas e os produtos formam o principal sistema classificatório. Se desejamos entender melhor o seu valor para as pessoas, precisamos investigar acima de tudo como eles são usados por elas para tornar a vida mais compreensível, significativa e cheia de esperança.
Muito do que sabemos é provisório e artificial: usamos a nossa imaginação e os nossos esquemas classificatórios para impor à realidade uma ordem e uma certeza inexistentes, as quais podem, no entanto, ser úteis para nos movermos no mundo com mais segurança, coragem e ânimo.
Em nossa cultura, as marcas e os produtos formam o principal sistema classificatório. Se desejamos entender melhor o seu valor para as pessoas, precisamos investigar acima de tudo como eles são usados por elas para tornar a vida mais compreensível, significativa e cheia de esperança.
12.3.13
Mães preferem aplicativos de marca
Grandes marcas de varejo estão se dando bem no mobile commerce norte-americano: seus aplicativos são mais usados pelas mães do que os aplicativos de descontos, comparação de preços e review de produtos. E a diferença é grande.
Segunda pesquisa divulgada no eMarketer hoje, 60,2% das mães usam algum aplicativo de marca em seus smartphones enquanto apenas 20% delas recorrem a aplicativos de descontos e 10,4% a aplicativos de comparação de preços.
É mais uma evidência de que a melhor proteção contra guerras de preço é mesmo investir na construção de uma marca forte, oferecendo serviços diferenciados, experiências memoráveis e muita qualidade.
Leia também: Tendências de marketing digital para 2013.
Segunda pesquisa divulgada no eMarketer hoje, 60,2% das mães usam algum aplicativo de marca em seus smartphones enquanto apenas 20% delas recorrem a aplicativos de descontos e 10,4% a aplicativos de comparação de preços.
É mais uma evidência de que a melhor proteção contra guerras de preço é mesmo investir na construção de uma marca forte, oferecendo serviços diferenciados, experiências memoráveis e muita qualidade.
Leia também: Tendências de marketing digital para 2013.
24.2.13
Clarice Lispector, etnógrafa do consumo
"Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.
No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado."
Leia também: Para que serve a etnografia no marketing.
16.2.13
Nota para uma leitura mais atenta
Regrinha básica para uma boa leitura de ficção ou de poesia, que até alguns críticos profissionais ignoram às vezes (falta-lhes generosidade, um pouco mais de atenção, de paciência, de humildade?): o que, numa leitura superficial e apressada, pode parecer um movimento errado, grotesco ou mal bolado, talvez seja na verdade um belo golpe de imaginação, tramado para produzir um efeito de sentido necessário, inevitável até, se considerarmos a obra em seus próprios termos e propósitos - um golpe sem o qual o texto literário não vence a desconfiança e a indiferença do leitor.
Acabei de lembrar disso ao reler O Olho, conto de Myriam Campello, que um dia me desagradou por uma ou outra metáfora mais tosca. Como poderia ser diferente no entanto se o narrador, logo no primeiro parágrafo, nos avisa: "Não sou escritor, isso vê-se. [...] Se deito ao papel notícias do vendaval que no último mês desmantelou minha vida é por justamente sentir-me em pedaços"?
É natural que um sujeito desses, poeta amador e casual, apele para imagens banais e cafonas como "Se só entre nós permitimos que a espuma do amor flua e se derrame?". Como também é muito verossímil e ficcional que em outros trechos, arrebatado pelos acontecimentos excepcionais da narrativa, lhe ocorram observações mais afiadas e poéticas. Acontece quando, por exemplo, ele se refere a "um bom dia reservado que marca limites" ou quando, ao comentar um desejo muito intenso e proibido, descreve-o como uma "avalanche que se nutre do próprio excesso para melhor derrubar e engolir".
Acabei de lembrar disso ao reler O Olho, conto de Myriam Campello, que um dia me desagradou por uma ou outra metáfora mais tosca. Como poderia ser diferente no entanto se o narrador, logo no primeiro parágrafo, nos avisa: "Não sou escritor, isso vê-se. [...] Se deito ao papel notícias do vendaval que no último mês desmantelou minha vida é por justamente sentir-me em pedaços"?
É natural que um sujeito desses, poeta amador e casual, apele para imagens banais e cafonas como "Se só entre nós permitimos que a espuma do amor flua e se derrame?". Como também é muito verossímil e ficcional que em outros trechos, arrebatado pelos acontecimentos excepcionais da narrativa, lhe ocorram observações mais afiadas e poéticas. Acontece quando, por exemplo, ele se refere a "um bom dia reservado que marca limites" ou quando, ao comentar um desejo muito intenso e proibido, descreve-o como uma "avalanche que se nutre do próprio excesso para melhor derrubar e engolir".
24.1.13
Branding game
Machinima é um bom exemplo de branding hipercultural. |
Esses caras sabem fazer branding hipercultural como poucos. Embutiram o DNA da coisa na própria missão da marca, enraizando o negócio na cultura gamer: Machinima é a próxima geração do entretenimento em vídeo para fãs de jogos eletrônicos.
"Nós produzimos uma ampla programação focada em gaming para jovens de 18 a 34 anos", declaram em seu web site.
A palavra Machinima, combinação de "machine" e "cinema", refere-se ao processo de criar animações em tempo real por meio da manipulação de mecanismos e conteúdos de videogames.
Com essa proposta, seus fundadores construíram uma rede social de marca que reúne mais de 262 milhões de usuários únicos. Em dezembro de 2012, os assinantes do Machinima assistiram 2,6 bilhões de vídeos. O jogo é bruto.
17.1.13
Branding e publicidade na era da busca social
O Facebook finalmente deu partida no seu motor de busca social - o Google vem trabalhando nisso firmemente desde que lançou o Google+. A rede social planeja se tornar mais relevante nas etapas finais do processo de decisão de compra.
O lançamento da busca social do Facebook significa que a opinião dos amigos terá um peso ainda maior nas escolhas do consumidor.
Agora, para saber o que os seus contatos pensam sobre determinado serviço ou produto, basta digitar algumas palavras-chave na caixa de busca e - clique - pronto. Não será mais preciso pedir recomendações em público - pode ser muito indiscreto às vezes - ou esperar que uma quantidade suficiente de amigos se anime ou possa responder a tempo.
Do ponto de vista do branding, acho interessante observar como o fator fidelidade do consumidor vem ganhando peso na equação de valor de marca: hoje em dia, quanto mais clientes fiéis uma marca tiver, do tipo engajado e embaixador, mais pontos ela consegue em outros fatores de brand equity, especialmente em termos de consciência - na medida em que seu conteúdo viraliza e seus produtos/serviços ganham boas avaliações - e de reputação de marca.
A nova ferramenta de pesquisa do Facebook viabilizará a segmentação de anúncios de acordo com a (provável) intenção de compra dos usuários. Na medida em que estes fizerem uma determinada busca - "amigos que praticam alpinismo" por exemplo -, a rede social poderá lhes mostrar anúncios relacionados tanto no seu site quanto em sites afiliados, oferecendo produtos e serviços ligados a esse esporte.
Outro aspecto digno de destaque é o sistema de geolocalização, dimensão muito valorizada na busca social. Pelo jeito, o Facebook vai entrar forte no mercado de buscas locais, segmento que anda cada vez mais disputado devido ao forte crescimento da internet móvel. O Foursquare, o Yelp e o Google que se cuidem.
O lançamento da busca social do Facebook significa que a opinião dos amigos terá um peso ainda maior nas escolhas do consumidor.
Agora, para saber o que os seus contatos pensam sobre determinado serviço ou produto, basta digitar algumas palavras-chave na caixa de busca e - clique - pronto. Não será mais preciso pedir recomendações em público - pode ser muito indiscreto às vezes - ou esperar que uma quantidade suficiente de amigos se anime ou possa responder a tempo.
Facebook começa a lançar a sua busca social. |
Do ponto de vista do branding, acho interessante observar como o fator fidelidade do consumidor vem ganhando peso na equação de valor de marca: hoje em dia, quanto mais clientes fiéis uma marca tiver, do tipo engajado e embaixador, mais pontos ela consegue em outros fatores de brand equity, especialmente em termos de consciência - na medida em que seu conteúdo viraliza e seus produtos/serviços ganham boas avaliações - e de reputação de marca.
Publicidade baseada em busca social
Na minha opinião, o movimento do Facebook responde à pressão dos anunciantes por resultados ao mesmo tempo em que prepara a empresa para ganhar uma boa participação no mercado de busca, que hoje é dominado pelo Google.A nova ferramenta de pesquisa do Facebook viabilizará a segmentação de anúncios de acordo com a (provável) intenção de compra dos usuários. Na medida em que estes fizerem uma determinada busca - "amigos que praticam alpinismo" por exemplo -, a rede social poderá lhes mostrar anúncios relacionados tanto no seu site quanto em sites afiliados, oferecendo produtos e serviços ligados a esse esporte.
Outro aspecto digno de destaque é o sistema de geolocalização, dimensão muito valorizada na busca social. Pelo jeito, o Facebook vai entrar forte no mercado de buscas locais, segmento que anda cada vez mais disputado devido ao forte crescimento da internet móvel. O Foursquare, o Yelp e o Google que se cuidem.
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