Uma releitura de Freud à luz de Bakhtin
Héber Sales
No campo das ciências sociais, dentre as críticas mais completas à psicanálise,
O Freudismo, livro do filósofo Mikhail Bakhtin publicado em 1927, é um dos primeiros, mais diretos e, descontando-se o que há nele de datado, mais consistentes ataques já feitos, tornando-se, portanto, uma referência incontornável no debate sobre o velho tema psicanalítico do mal-estar do sujeito perante a cultura, questão que, conforme discuti em um ensaio anterior, faz parte da minha pesquisa sobre
subjetividade, cultura e arte na publicidade contemporânea.
Para compreender o que será discutido agora, é necessário entender também o que já escrevi sobre a
teoria freudiana, pois aqui veremos como Bakhtin reconstrói inteiramente os conflitos pessoais do sujeito da psicanálise em termos de conflitos socioeconômicos e culturais.
Para o filósofo russo, a luta entre o consciente e o inconsciente não passa, na verdade, de uma projeção na alma individual da luta entre duas camadas da "
ideologia do cotidiano": a "
consciência oficial" e a "
consciência não-oficial".
Se considerarmos que a noção de ideologia do cotidiano nesse livro de Bakhtin equivale aproximadamente ao conceito de cultura que venho usando na minha
pesquisa, podemos concluir que, contra a cultura, não se opõe um sujeito qualquer, mas uma parte dela mesma: a "consciência não -oficial" de um sujeito culturalmente constituído (cultura e sujeito seriam apenas duas manifestações de uma mesmo processo de formação ideológica).
Como pôde Bakhtin dar tal passo a partir de sua crítica ao freudismo? Na verdade, não foi um, mas vários passos. Revisemos o percurso.
O caráter ideológico do psiquismo e do inconsciente
Os elementos da vida psíquica, que, em Freud, recebem uma nova nomenclatura - inconsciente, consciente, Eu, Isso, Supereu, etc. -, não passam, segundo Bakhtin, de velhos conhecidos da psicologia subjetiva: a vontade (desejos, aspirações), o sentimento (emoções, afetos) e o conhecimento (sensações, representações, pensamentos).
Nesse grande ramo da psicologia há um problema porém: aquilo que ela identifica como os elementos da vida psíquica "só existem para a consciência", já que é por meio da introspecção e da fala que se teria acesso a eles. Como o próprio Freud reconhece, tal método é incapaz de nos levar além da "consciência oficial".
Ë preciso lembrar que a introspecção é tendenciosa ("não pode livrar-se das avaliações)" e, ao mesmo tempo, "racionaliza demasiadamente a vida psíquica e, por isso, os seus testemunhos exigem uma elaboração substancial". Como resultado, o que a psicanálise reconhece como inconsciente não passa de uma "analogia do consciente" - ela assume que, nesse território obscuro e intocado da psique, há os mesmos elementos que encontramos na consciência. Prova disso é que, na teoria freudiana, o inconsciente atua de modo "sumamente 'consciente' e ideológico", produzindo "entre as experiências emocionais uma seleção puramente lógica, ética e estética". De fato, acusa Bakhtin, "o que há menos neles é o mecânico" pressuposto por Freud (BAKHTIN, 2014, p. 69).
Como investigar o inconsciente
Além de paradoxal, cabe perguntar se esse método é cientificamente legítima. A resposta de Bakhtin é categórica. Para ele, é inadmissível passar de um nível ao outro da investigação psíquica mantendo a mesma abordagem, já que, "abandonada a consciência, [não faz] mais nenhum sentido conservar sentimentos, representações e desejos" (BAKHTIN, 2014, p. 69). Esse dados subjetivos, por mais que sejam reinterpretados pela psicanálise, "[permanecem] no terreno da experiência interior", sendo, portanto, a expressão de uma consciência e não de um mecanismo autônomo como o inconsciente, que agiria à revelia do sujeito, de modo totalmente ignorado por este.
Caso se queira conhecer as forças objetivas reais que geram os comportamentos involuntários determinados inconscientemente, deve-se abandonar esses dados, argumenta Bakhtin, e desenvolver uma análise objetiva dos atos apoiada em "componentes materiais elementares do comportamento" (BAKHTIN, 2014, p. 70).
Acontece que um desses componentes é precisamente o enunciado verbal. Foi com base nele que Freud tentou penetrar nas camadas mais profundas do psiquismo e revelar a sua dinâmica. Fez isso, porém, permanecendo nos limites do que o paciente tinha a dizer, sem considerar que toda fala tem "raízes fisiológicas e sociológicas" (BAKHTIN, 2014, p. 77).
É a partir dessa constatação que Bakhtin tenta ir além de Freud, reelaborando o que a psicanálise trouxe de novo para a psicologia subjetiva - "a luta, o caos, e o infortúnio da nossa vida psíquica" (BAKHTIN, 2014, p. 75) - em termos mais objetivos, de caráter sociológicos.
A projeção de uma dinâmica social para a alma individual
Inicialmente, o filósofo russo questiona se podemos reconhecer como expressão do psiquismo individual de um sujeito aquelas enunciações que ocorrem durante uma sessão de terapia, dominada como ela é por inter-relações muito complexas do paciente com seu analista - enquanto o primeiro procura esconder algumas experiências emocionais e impor o seu ponto de vista sobre o seu sofrimento, o segundo tenta preservar a sua autoridade e busca obter revelações que confirmem as suas hipóteses, em um duelo pelo qual perpassam outros elementos como diferenças de campo, de idade, de posição social e de profissão.
A resposta de Bakhtin à essa questão é categórica: "nenhuma enunciação verbalizada pode ser atribuída exclusivamente a quem a enunciou: é produto da interação entre falantes e, em termos mais amplos, produto de toda uma situação social em que ela surgiu". Ela já encontra prontas, em seu aspecto fundamental, aquelas formas linguísticas que emprega, as quais são produzidas por meio de "um longo convívio social de um determinado grupo de linguagem". O que a caracteriza precisamente - "a escolha de certas palavras, certa teoria da frase, determinada entonação [...] - é a expressão da relação recíproca entre os falantes e todo o complexo ambiente social em que se desenvolve a conversa" (BAKHTIN, 2014, p. 79).
Para tornar ainda mais claro esse ponto, o filósofo emprega uma metáfora: "a palavra é uma espécie de "cenário" daquele convívio mais íntimo em cujo processo ela nasceu", o qual, por sua vez, "é um momento de um convívio mais amplo do grupo social ao qual pertence o falante". Para entender esse cenário que a palavra é, faz-se necessário reconstruir "aquelas complexas inter-relações sociais das quais uma dada enunciação é a interpretação ideológica" (BAKHTIN, 2014, p. 79-80).
E tudo o que foi dito acima aplica-se também ao "discurso interior", pois ele dirige-se ao ouvinte eventual de uma comunidade linguística, tornando-se também desta forma a manifestação do convívio social.
Assim devem ser vistas as enunciações nas quais se baseia a teoria freudiana, ou seja, como cenários de um pequeno acontecimento social: a sessão de psicanálise. Elas refletem não a luta do inconsciente contra a consciência individual do paciente mas, acima de tudo, a resistência ao terapeuta, ao ouvinte em geral - àquele outro enfim, que lhe interpela com suas exigências e concepções.
Desse ponto de vista, o que seriam então todas aquelas vivências psíquicas que os pacientes relatam quando estão estendidos sobre um divã e falam dos seus desejos, sentimentos, pensamentos, prazeres e desprazeres? Apenas uma projeção através da qual se investe na alma individual um conjunto de inter-relações sociais. O fenômeno é bem conhecido na psicologia, que constata repetidamente que "as experiências emocionais, na maioria dos casos, apenas duplicam o mundo dos objetos externos e das relações sociais". Com efeito, sempre que a ciência tenta fixar um limite exato entre o sujeito e o objeto, termina por concluir paradoxalmente que esse limite não existe, que tudo depende do ponto de vista. "O mesmo objeto, dependendo da relação, do contexto que o interpretamos, vem a ser ora uma vivência psíquica (minha sensação, representação) ora um corpo físico ou um fenômeno social" (BAKHTIN, 2014, p. 80).
Fatores objetivos da dinâmica psíquica
Por meio de um outro mecanismo de projeção podemos explicar ainda, se seguirmos o raciocínio de Bakhtin, todos aqueles complexos que teriam sido recalcados no inconsciente durante a infância do sujeito. O que guardamos lá não é de modo algum uma revelação do passado, mas de sua interpretação do ponto de vista do presente. "No passado vemos apenas o que é essencial para o presente [...]. Nós transferimos do presente para o passado pré-consciente da criança, antes de tudo, o colorido ideológico valoral característico apenas do presente"(BAKHTIN, 2014, p. 81).
Uma vez que retiramos deles todo esse revestimento semântico e valorativo, o que resta dos fatos da vida infantil - a excitabilidade precoce das zonas erógenas, a dificuldade em largar o corpo da mãe por um instante sequer, etc - não nos autoriza a concluir que, por exemplo, o Complexo de Édipo e todos os seus motivos - a "pulsão sexual pela mãe", o "pai-rival", a "hostilidade ao pai", o "desejo de sua morte" - tenham existência objetiva. Passar daqueles fatos para esta teoria é saltar de um plano de mensuração para outro. Acolá, flagramos forças materiais; aqui, uma luta de motivos criados por uma consciência forjada na e pela linguagem, uma "consciência que reflete a dialética da história em proporções bem maiores que a dialética da natureza" (BAKHTIN, 2014, p. 82-84).
O que nos resta então estudar se nos propusermos a trabalhar nos termos e condições de uma psicologia objetiva? De um lado, os fatores fisiológicos, que afinal são insuficientes para explicar os atos humanos - especialmente aqueles conflitos de comportamento verbalizados com os quais Freud trabalhava - se a eles não juntamos, de outro lado, a análise da palavra. Isso porque, como já vimos, o conteúdo do psiquismo (entre eles os motivos do inconsciente) é uma expressão ideológica da consciência, para a qual as coisas só se tornam "reais" por meio do discurso, seja ele interior ou exterior. A palavra então, "no sentido sociológico mais amplo e concreto, é o meio objetivo em que nos é dado o conteúdo do psiquismo" (BAKHTIN, 2014, p. 84).
O conteúdo da consciência como ideologia
Assim como Freud, Bakhtin desconfia da consciência do indivíduo como fiel testemunha dos fatores que o levam a se comportar desta ou daquela forma. Ao contrário de Freud, porém, o russo vai além, e descarta de igual modo os motivos do inconsciente como explicação dos atos humanos, já que, na psicanálise, o inconsciente em nada distingue-se da consciência.
"Os motivos do inconsciente que se revelam na sessões de psicanálise [...] são
reações verbalizadas do paciente tanto quanto todos os demais motivos da consciência", diferindo destas destas, por assim dizer, não pela espécie de sua existência, mas tão somente pelo seu conteúdo, isto é,
ideologicamente" (BAKHTIN, 2014, p. 85).
A partir daí, Bakhtin começa então a reconhecer, além da consciência "oficial", uma consciência não-oficial, à qual corresponde o inconsciente freudiano. Esses dois tipos de consciência não são essencialmente diferentes entre si. "[...] entre o conteúdo do psiquismo individual e a ideologia enformada não há uma fronteira em termos de princípio", pois "uma vivência individual conscientizada já é ideológica" e, entre ela e a realização cultural mais complexa e bem acabada, há uma corrente contínua de elos de "uma única cadeia de criação ideológica" (BAKHTIN, 2014, p. 87).
Como pode, porém, o conteúdo mais vago da consciência já ser ideológico? Por meio da palavra, resume Bakhtin. Ocorre que tanto o pensamento quanto o sentimento mais vago só se tornam suficiente claros e, por consequência, existentes para o sujeito quando eles percorrem até o fim o longo e tortuoso caminho que leva do conteúdo do psiquismo individual até o conteúdo da cultura e, mais especificamente, da palavra, essa "refração sutil e confusa das leis socioeconômicas" (BAKHTIN, 2014, p. 88).
O argumento fica mais claro se considerarmos que a autoconsciência envolve a colocação de si mesmo sob o olhar de um outro representante do seu grupo social, pois "toda motivação do comportamento de um indivíduo [...] é a colocação de si mesmo sob determinada norma social, é [...] a socialização de si mesmo e do seu ato". Eis o modo como então a consciência de si acaba refletindo e especificando "a consciência de classe em todos os seus momentos essenciais, basilares. Aí estão as raízes objetivas até mesmo das reações verbalizadas mais pessoalmente íntimas" (BAKHTIN, 2014, p. 86-87).
Do discurso interior até os grandes sistemas ideológicos estáveis e enformados das ciências, das artes, da religião, do direito, etc., há um processo incessante de conjugação e cristalização do elemento ideológico instável, "que através das ondas vastas do discurso interior e exterior banham cada ato nosso e cada recepção nossa" (BAKHTIN, 2014, p. 88). Por outro lado, a ideologia enformada, "oficial", exerce uma poderosa influência reversa em todas as nossas enunciações.
A natureza ideológica e social dos conflitos psíquicos
À esse
discurso interior e
exterior que penetra integralmente o comportamento humano, Bakhtin dá o nome de
ideologia do cotidiano. Ela costuma se relacionar de modo aparentemente amigável e cooperativo com a
ideologia oficial, "enformada". Eventualmente, porém, pode se dar um conflito entre ambas.
Para entender como essa luta pode acontecer e atingir o sujeito, é preciso compreender primeiro a natureza e a composição da ideologia do cotidiano.
Quanto à sua natureza, ela "é mais sensível, compreensiva, nervosa e móvel que a ideologia oficial". Por isso, em seu cerne, acumulam-se aquelas contradições que, após atingirem certo limite, acabam explodindo o esquema ideológico dominante de uma classe.
Isso não quer dizer que ela seja menos ligada à base econômica e social do que as tais superestruturas ideológicas. Não, de modo algum. Como já vimos, ela faz parte do mesmo plano, da mesmas cadeia de criação cultural que os grandes e sólidos sistemas ideológicos.
Algumas camadas mais superficiais da ideologia do cotidiano, às quais corresponde a
consciência oficial censurada em Freud, exprimem os momentos mais estáveis e dominantes da consciência de classe. Como estão mais próximas da ideologia enformada, elas permitem que o discurso interior transforme-se mais livremente em discurso exterior.
Outros estratos, porém, que equivalem ao inconsciente em Freud, podem ser agora reconhecidos como
consciência não-oficial, Eles estão mais distantes da ideologia dominante e acumulam "motivos internos" que sugerem, de modo precoce, a desintegração, senão de toda uma classe ou sociedade, pelo menos de alguns dos seus grupos. Dessas camadas, dificilmente emerge, a princípio, o discurso interior, pois ele teme se tornar um discurso exterior.
Em uma comunidade sadia ou em um "indivíduo social-sadio", "a ideologia do cotidiano, fundada na base econômico-social, é integral e forte. Não há nenhuma divergência entre a consciência oficial e a não-oficial" (BAKHTIN, 2014, p. 89).
Não é isso, todavia, o que ocorre ao paciente da psicanálise. Ele é vítima de um conflito, um conflito que, para Bakhtin, é típico de um certo momento da vida pequeno-burguesa européia, e não de uma luta universal no seio dos seres humanos. "A 'censura' freudiana exprime com muita precisão o ponto de vista da ideologia do cotidiano dessa classe, razão porque surge uma impressão cômica quando os psicanalistas a transferem para o psiquismo de um grego antigo ou de um camponês medieval" (BAKHTIN, 2014, p. 89-90).
As enunciações desses pacientes não revelam afinal, como queria Freud, "conflitos psíquicos", mas lutas ideológicas. De um lado, a consciência oficial e a ideologia dominante; do outro, a consciência não-oficial, essa camada da ideologia do cotidiano em que se acumulam motivos internos divergentes em relação aos habituais motivos ideológicos que podem ser contrários à existência e ao progresso socioeconômico de um indivíduo e do seu grupo.
A origem da ideologia revolucionária
De um modo geral, os motivos da consciência não-oficial tendem a perecer, uma vez que, devido ao profundo fosso que os separam da consciência oficial, eles não conseguem passar do discurso interior ao discurso exterior para aí então ganharem forma, clareza e força. Obstruídos, esses motivos logo se enfraquecem, perdem suas feições verbais e, assim, desaparecem da realidade humana.
Ocorre que, eventualmente, alguns desse motivos alternativos ao sistema ideológico dominante podem se exteriorizar de modo cada vez mais forte na medida em que servem de esteio para a existência econômica de todo um grupo social. "É assim que se cria a ideologia revolucionária em todos os campos da cultura", conclui Bakhtin (BAKHTIN, 2014, p. 90).
O artista contra a cultura
Dessa discussão, cabe destacar aqui para a pesquisa que venho discutindo com vocês, as posições que o sujeito e o artista podem ocupar diante da cultura em que vive.
Ele pode ser um
indivíduo social-sadio, para quem não há nenhuma oposição entre consciência oficial e consciência não-oficial.
No outro extremo, ele pode poder se tornar um
desclassificado, ou seja, alguém que acumular motivos ideológicos internos idiossincráticos, para os quais não encontra eco em nenhuma parte do seu grupo social.
Eventualmente, porém, alguns desses motivos da consciência não-oficial divergente tornam-se sustentáculos para a existência material de um grupo ou comunidade. Neste caso. estamos diante do
indivíduo inconformista por assim dizer, que se coloca, junto com seus pares, contra a ideologia oficial de sua classe.
Chama a atenção no caso dos artistas modernos e contemporâneos que eles tenham sido valorizados pelas classes dominantes justamente por seu inconformismo cultural, ideológico. Aparentemente, tais classes organizaram dentro do seu espaço social um lugar privilegiado onde o discurso interno da consciência não-oficial sofre menos "censura" e pode se converter livremente em discurso externo socialmente aceito e valorizado pela ideologia oficial, "enformada".
Voltarei ao assunto nos próximos ensaios, abordando inclusive uma característica peculiar do discurso desse indivíduo inconformista em particular, o artista: a sua natureza estética. Notem que, como defende Bakhtin, a ideologia do cotidiano é mais "sensível" e "nervosa" do que a ideologia oficial. Em suas camadas mais clandestinas, estão aquelas vagas percepções que buscam as palavras e os outros signos com que podem se tornar existentes para nossa consciência (reais enfim). É pois nessa dimensão que o artista trabalha, convertendo habilmente, por meio de sua extrema sensibilidade semiótica, estímulos sensíveis em objetos sensoriais significativos. Eis uma hipótese a discutir nas cenas dos próximos capítulos.
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America (2016), instalação de Maurizio Cattelan no Guggenheim Museum |
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Referência
BAKHTIN, Mikhail Mikhaĭlovich.
O freudismo: um espaço crítico. Perspectiva, 2014.